Religião
é um tema um tanto delicado de conversar, sobretudo com quem tem uma visão
unilateral e dogmática a respeita do mesmo. Por se tratar da fé das pessoas (e
isso merece ser respeitado profundamente) geralmente o que se tem a fazer é
ouvir a opinião da outra pessoa e entendê-la como legítima, contextualizando
isso na história de vida dela. E ao expor a própria opinião não precisa ser
ofensivo ou tentar convencer o outro a migrar para o mesmo credo que você. O
mundo é muito vasto e nele tem espaço para todos, cada qual do seu modo, do seu
jeito.
Vez ou outra em converso com algumas
pessoas que fazem parte de alguma religião ou que frequentam algum ritual
religioso. Isso é uma opção existencial. Geralmente a institucionalização da fé
acaba transformando a espiritualidade em religiosidade. E em casos assim o
diálogo fica mais para monólogo. É quase inevitável que eu comunique a minha
posição quanto aos assuntos apresentados. Acho interessante esse jogo de
argumentos, embora perceba que a maioria deles já vem encaixotado/fechado de
acordo com o que prega a doutrina que é seguida.
Em alguns casos e para algumas
pessoas a fé indispensável. Mas a fé cega, restrita aos dogmas das religiões, é
um tanto perigosa, pois pode levar o indivíduo a uma alienação muito grande,
deixando-o à mercê do que diz o padre, o bispo, o pastor. Às vezes esses que se
intitulam como representantes de um sobrenatural na terra mais trabalham para
tornar as pessoas ignorantes, quando na verdade deveriam esclarecê-las ou fazer
outras coisas que não o que fazem. Com fé não se brinca. Ou ao menos não se
deveria brincar.
Há muito tempo me tornei agnóstico. Não
tenho conhecimento, não posso saber da existência ou não de um ser
sobrenatural, tampouco seus atributos e outros aspectos com relação a isso. Eu
não sei. Simples assim. A capacidade humana é limitada e não temos alcance para
saber/conhecer isso. O que existem são as crenças. Alguns acreditam na
existência de um deus, ou de deuses, outros não acreditam. Eu estou mais para
estes últimos. Então, recapitulando, sou agnóstico por não ter conhecimento,
por não saber da existência de um sobrenatural e sou ateu por não acreditar
nessa existência.
Ter esses posicionamentos não me faz
uma pessoa antiética, sem compaixão, desumana, et cetera e tal. Ser uma pessoa
honesta e não fazer mal às pessoas, aos animais e ao planeta como um todo não
necessariamente tem a ver com a crença religiosa. São coisas distintas. Algumas
pessoas só agem assim impulsionadas pela fé, pela crença. Isso decorre, talvez,
do entendimento de que Deus seria uma espécie de punidor das pessoas pelas
coisas erradas que elas cometem e recompensador das mesmas pelas seus acertos.
Meio infantil pensar assim, mas respeito que tem isso incutido sobre os ombros.
E volto a afirmar, ética não tem a ver com religião. Se tivesse, pessoas religiosas não cometeriam algumas enormes atrocidades que vimos por
aí.
Eu
costumo me questionar sobre dois pontos, já que admito não ter conhecimento,
não saber sobre. Na hipótese afirmativa da existência de um sobrenatural e que
ele possua algumas características que costumeiramente o são atribuídas, tal
como onisciência, onipotência, onipresença, que ele seja infinitamente bom,
infinitamente acolhedor e tudo mais que a tradição nos lega, (1) esse
sobrenatural tem poder para interferir nas ações humanas? (2) Se tem, porque
não o faz e permite que coisas más aconteçam com pessoas boas, com pessoas
inocentes? Além dessas inquietações, outras coisas me instigam com relação ao
assunto, mas vou abortar por aqui para não me estender muito e não correr
(ainda mais) o risco de incompreensão ou julgamento equivocado.
É raro, após eu elucidar um pouco
das minhas crenças (ou falta delas) não ouvir a pergunta “Mas então em que você acredita?” Não é uma resposta fácil. Há uma
ebulição de ideias que apontam alguns caminhos. Costumo dizer que acredito nas
pessoas, acredito no amor como sendo algo que dá sentido e movimento ao
universo. Sim, o amor é o que nos move. Não esse amor romântico vendido nas
bancas de revistas, nas novelas, nos faz-de-contas. Mas o amor como uma
disposição para empenhar-se em fazer as coisas dando o melhor de si sem esperar
nada em troca e sem querer tirar proveito sobre situações ou pessoas. Para
alguns isso pode até parecer simplista, ou utópico, ou ridículo. Mas é isso. É
nisso que eu acredito. É assim que eu me posiciono no mundo. É assim que eu
vivo.
Me desatei a escrever sobre essas
coisas depois de ter lido, dias atrás, esse texto (clica pra ver) do David Coimbra, no
qual ele fala de um câncer que culminou com a retirada de um rim. Sobre a
situação ele fala do carinho e o apoio recebido das pessoas “Não
há nada transcendental aí; o que há são as pessoas. Os homens. O homem que
inventa a bomba atômica, mas que também desenvolve a medicina nuclear, o homem
é, sim, o lobo do homem, mas também o seu consolo e a sua salvação. Depois de
olhar na cara da morte, vi que a vida está na relação com as outras pessoas. As
pessoas, as pessoas. Os outros seres humanos é que nos tornam humanos”.
Minha
pretensão com isso tudo? Instigar a reflexão e o senso crítico, lembrar que o
preconceito não faz bem à nossa alma, quebrar algumas correntes que nos
aprisionam e nos impedem de vislumbrar o que a vida tem a nos oferecer. Essas e
algumas coisitas mais.
Abraço de paz!
Nenhum comentário:
Postar um comentário