Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

terça-feira, 17 de julho de 2012

O caminho está em nós mesmos


"Ocupamos nosso tempo com todas as distrações que a sociedade pode nos apresentar. E, ainda, não param de subir os índices de tristeza, depressão, insatisfação, tédio. Buscando alegrias fora de nós, cada vez menos somos capazes nós mesmos de gerá-las. Com tantas rotas de fugas existenciais, falhamos em perceber e em exercitar a capacidade de lidar com as intempéries da vida, tão inevitáveis como qualquer outro fato natural. Preocupados em sermos mais tecnológicos, perdemos a chance de sermos mais humanos."


Artigo de capa da Revista  Filosofia, da Ciência e Vida, intitulada "Conhece-te a ti mesmo", escrito por Gustavo Dainezi (fica a dica; uma ótima leitura).

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Grande Irmão*


         Nos tempos da graduação em Filosofia tive a oportunidade de conhecer um livro chamado 1984, de George Orwell (curiosamente, e não sei o motivo, o nome verdadeiro do autor é Eric Arthur Blair). Tal obra, escrita no ano de 1948, foi inspirada nos regimes totalitaristas, ou totalitários que assolaram a humanidade nas décadas de 1930/1940 e as restrições moralistas que os mesmos impregnavam sobre a sociedade e seus indivíduos. 
         Imagine você, leitor, morar em um lugar onde tudo é controlado pelo governo ao ponto de você ser assassinado caso não obedeça as regras impostas por quem está no poder. Pois é numa circunstância assim que Orwell desenvolve sua história. O Partido exercia total poder sobre seus comandados. Em cada casa havia uma teletela, semelhante a uma televisão, que, além de captar informações sobre a vida das pessoas, transmitia as ordens do temido Big Brother (O Grande Irmão).
         Para manter a ordem havia o Ministério da Verdade. Quem trabalhava nele tinha a incumbência de manipular dados históricos, alterar eventos, destruir provas do passado e incinerar documentos originais, tudo para defender os interesses do Partido. Quem tivesse idéias contrárias aos ideais do Partido ou se negasse a seguir as regras impostas por ele era denunciado à Polícia do Pensamento. As crianças, desde muito cedo, aprendiam a fazer as denúncias ao pessoal deste departamento. Quem fosse pego pela Polícia do Pensamento geralmente virava pó, morria vaporizado. Até mesmo uma língua diferente, a Novilíngua, própria do Partido, estava sendo criada para alienar ainda mais as pessoas.
         O personagem principal do livro, Winston Smith, era um funcionário do Partido que não consentia com a situação a que o povo era submetido. Indignando, ele compra clandestinamente um lápis e um bloco de folhas em um estabelecimento. Se fosse pego com esses artigos, provavelmente perderia sua vida, visto que eram produtos de venda proibida pelo risco de conspiração contra a ordem do Partido.
         Em sua casa, Winston consegue encontrar um canto em que a teletela não conseguia capturar seus movimentos. Foi justamente neste local que ele inicia uma espécie de diário, no qual ele externa seu desejo de uma sociedade diferente desta opressora, imposta pelo Partido. As primeiras palavras que Winston grifa na primeira página foram: “Abaixo o Grande Irmão”.
         Pois bem, algo lhe pareceu familiar nessa história que comecei a contar? Vou interrompê-la para fazer um paralelo com a questão que eu quero chegar. Ainda assim, 1984 fica como indicação de leitura. Acho que vai valer a pena dispensar um tempo para conferir o desfecho do enredo.
         Ainda que de conhecimento de poucos, a obra que mencionei foi uma espécie de inspiração para o ‘reality show’ mais popular dos últimos tempos. Isso mesmo! Será mera coincidência uma casa vigiada por câmeras 24 horas por dia e o programa se chamar justamente Big Brother?
         Não cabe a mim aqui fazer juízo do programa, da emissora que detém os direitos autorais, dos participantes, dos telespectadores, das regras do jogo, nem nada. O ponto que quero chegar é propor uma reflexão acerca daquilo que vivenciamos diariamente, reflexão esta que pode contribuir com nosso desenvolvimento cultural e humanístico. Assim, talvez possamos superar o que alguns teóricos apontam como uma consequência da modernidade, a cultura inútil.
        
*Por Everton Augusto Corso.
Publicado no Jornal Folha da Produção em março de 2009.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A morte mexe comigo

A morte é algo que dá uma bagunçada na minha estrutura existencial. Geralmente eu tenho que ficar muito atento para re-organizar as coisas quando falece alguém próximo de mim ou próximo de quem eu tenho certa afinidade e/ou contato. Aprendi a elaborar meus processos de luto de forma producente. Não é insensibilidade, não é o caso de não sofrer com as perdas; é minha forma singular de significar as vivências (e nem convém ficar explicando detalhadamente como faço isso).
O fato é que a morte não é apenas uma morte. Seguidamente reflito sobre dois fatores que estão relacionados a ela e me fazem chegar a algumas conclusões.
Primeiro: é um traço de nossa cultura sermos educados para o sucesso, para o êxito, para as vitórias, para o pódio. São poucos os casos em que nos alertam que a vida nem sempre segue os roteiros dos filmes de Hollywood, que às vezes ocorrerão eventos trágicos inevitáveis, que alguns de nossas relacionamentos chegarão ao fim, que seremos traídos, que muitas coisas não dependem somente da nossa volição e do nosso esforço, que a morte é uma realidade intrasponível.
Segundo: a morte remete ao passado e ao futuro. Ela trás a dor de estarmos perdendo alguém e suscita saudades de outras pessoas que já partiram. De forma semelhante, passamos a pensar que pessoas que ainda temos conosco podem, casual e inevitavelmente, nos deixar no percurso da vida.
Esses fatores trazem à tona vários elementos que tornam a morte um evento tão traumático para a maioria das pessoas. 
Talvez refletir sobre isso possa trazer certo mal estar para alguns. Por outro lado, para outros pode ser o que venha a aliviar a dor nos momentos críticos em que ela está passando, nos instantes nebulosos e tristes que envolvem a morte, a perda de algum ente querido.

FORZA!          

terça-feira, 10 de julho de 2012

Mais uma da Gangue da Matriz

Eu já havia comentado algo sobre a Gangue da Matriz aqui. Trata-se do rap criado por Tonho Crocco, ex-integrante da banda Ultramen, no qual ele manifesta-se contra o aumento abusivo de salários (73%) que os Deputados Estaduais do Rio Grande do Sul deram a si mesmos num passado recente. Para quem não sabe, a Assembleia Legislativa gaúcha fica localizada ao lado da Praça da Matriz. Daí o nome do rap.
Na época deu um blá-blá-blá na mídia. Moveram processo contra o músico. Depois que a opinião pública se posicionou contra o que, a meu ver foi uma tentativa de abuso de poder, o processo foi retirado.
Eis o vídeo da música tão polemizada.
Os ânimos deram uma acalmada. Mas as falcatruas, ao que tudo indica, não.
reportagem de capa do jornal Zero Hora de 10/07/2012 aborda o caso de Lídia Rosa Schons, uma funcionária da Assembleia Legislativa, que por 15 dias foi flagrada passeando com seu cão e fazendo compras quando deveria estar cumprindo horário no gabinete do Deputado Paulo Azeredo (PDT). Em entrevista ao jornal, ela afirma que 7 dos 15 dias são de suas férias, que teriam sido tiradas apenas "no papel", que trabalha das 08h30min às 13h30min, que tem a mãe doente, precisando de seus cuidados, e que comunicou seus superiores sobre o fato.
O líder da bancada do PDT, Gerson Burmann, o deputado Paulo Azeredo e o chefe de seu gabinete, Jose Renato Heck, isentam-se de responsabilidade pela efetividade (ou melhor, né?!, pela não efetividade) da funcionária. Aquele famoso não é comigo, não vi nada, não sei de nada. Os fatos vão ser apurados pelo Ministério Público e isso vai dar, provavelmente, em algo parecido com pizza.
Não cabe a eu julgar os poderes e atribuições de cada função. Ademais, cada um é dono do seu rabo. Só que tem uma ressalva: admitir as consequâncias de suas escolhas, de suas atitudes é o mínimo que se pode fazer.
Pois bem. Onde vamos chegar? O Ministéio Público já apurou várias vezes a existência de funcionários fantasmas na Assembleia. Fica a pergunta: alguém foi responsabilizado ou obrigado a devolver R$ 1,00 aos cofres públicos? Talvez eu seja um ignorante besta que não esteja sabendo de como terminaram as investigações, mas...
Outra coisa! A reportagem aponta que o salário da funcionária é de R$ 24.300,00. Oras, não me interessa que ela esteja trabalhando na Assembleia desde que os índios foram catequizados pelos portugueses. E não estou pondo em questão seu desempenho, nem diminuindo sua importância naquela casa. Me refiro, apenas, à gritante disparidade salarial. Eu preciso trabalhar 2 anos (e não me envergonho de admitir isso - tampouco me orgulho) para ganhar o que essa funcionária ganha em um único mês. Aliás, o que eu ganho num mês de trabalho deve ser o que ela gasta com a ração que dá para o cão que leva diariamente passear. Alguma coisa está errada nisso tudo, não?
Bem, fica registrada minha indignação. Queria ter poderes mágicos que pudessem diminuir meu sentimento de impotência frente a essa triste realidade.
Sao coisas rotineiras que acontecem ali, ao lado da Catedral Metropolitana, ao lado da Praça da Matriz... 

(in)exatidão matemática

Paixão e amor não tem exatidão matemática. Não há um indicativo que aponte onde começa um e onde termina o outro. Tampouco existe uma lógica entre o que vem primeiro e o que (ou no que), mais tarde, isso vai se tornar.

Conheço pessoas que se apaixonam e essa paixão vira um amor. Não menos verdade, conheço pessoas que amam para depois se apaixonar. Outras não sabem o que estão vivenciando, se paixão, se amor, entre tantos outros "se".

Algumas pessoas sentem verdadeiramente. Outras fingem tão bem que enganam-se a si próprias. Certas vezes o sentimento é expontâneo, natural, lindo. Em outros casos, imposição, faz de contas, tesão.

Pedrinho, certa feita, me disse que não consegue amar Mariazinha. Ele se diz um eterno apaixonado e ter medo que o amor chegue e bagunce tudo o que seu romantismo construiu. 
Outro dia, Y, que é uma mulher muito atraente, me confidenciou que desconfia que não ama mais X, mas que não vive sem o corpo dele, sem seu sexo. 
E (olhem só!), dias atrás H, num papo de bastidores, naquelas conversas descontraídas que às vezes revelam muitos mistérios, deixou escapar que ama muito M mas que não quer ter um romance com ela. Para ele, o amor não obedece  regras de mercado, de escambos, na qual uma pessoa só ama a outra na ânsia de ser amada. Ele apenas a ama. Só isso e nada mais.

São coisas da alma humana, não? E, sendo assim, querer que as vivências das outras pessoas se baseiem em nossas próprias verdades, em nossos parâmetros existenciais, pode ser um tanto nocivo para ambas as partes, tanto para quem julga, quanto para quem é julgado.
O caminho é a compreensão, não os rótulos.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O que temer

"Não tenha medo de conhecer pessoas, de se relacionar, de se envolver ou de desistir de tudo isso! Tenha medo, isto sim, de se deixar contaminar pela hipocrisia que gere a vida da maioria, pela falsidade e por esta habilidade asquerosa de mentir e dizer ao outro palavras doces que não correspondem aos seus sentimentos."

Cláudia de Marchi em seu blog, Apenas Ideias.

sábado, 7 de julho de 2012

Qualquer semelhança não é mera coincidência

"O brabo de experimentar quase tudo na vida é que chega um momento em que você parece que já fez tudo, ouviu todas as canções, foi a todas as festas, provou todos os gostos, fotografou todas as paisagens. Eu e o mundo exterior estamos em litígio, nos separando aos poucos, às vezes apenas nos esforçando para manter as aparências. Foi-se a época de sexo, drogas e rock n' roll. Meu lema, nos últimos tempos, tem sido jazz, chocolate e auto-erotização."

Gabito Nunes em sua página.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A gente se acostuma

Um espetáculo para ler ou ouvir (ou ambos).
Boa reflexão.
Abraço de paz!


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

 

terça-feira, 3 de julho de 2012