Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

domingo, 10 de novembro de 2013

dos retratos existenciais

Certamente você conhece alguma pessoa com quem não tem contato há 2 meses, 2 anos ou 2 décadas. É um familiar que mudou de cidade porque constituiu família, ou um amigo que foi promovido no emprego e teve que mudar também de cidade, uma amiga que foi para o exterior fazer um intercâmbio de estudos. Na hipótese de um reencontro, você conversa com a pessoa, percebe algumas mudanças e logo passa à sua cabeça "nossa, como o fulano mudou!". Isso pode ser um indicativo de que você fez um retrato existencial da pessoa e que ainda a enxerga como ela era tempos atrás.
***
Teu amigo era viciado em refrigerante e agora só toma água sem gás. Era o primeiro a sentar na mesa para apreciar um suculento churrasco e agora aderiu ao vegetarianismo. Sempre falou em ter um número de filhos que desse para montar um time de futebol e agora expressa a vontade de ter apenas mais um, para fazer companhia ao Júnior, o único filho até então. Tinha asco ao som de guitarras pesadas, pois só ouvia MPB em volume baixo, mas agora ouve rock´n´roll e metal a todo volume. Certamente você vai pensar que aconteceu alguma coisa esse amigo, pois ele mudou muito. Claro! Ele mudou de cidade, de emprego, ampliou o círculo de amizades, conheceu uma garota, casou-se com ela, teve um filho. Não é de estranhar que ele tenha mesmo mudado, não é?
Você pode ficar se perguntando como um outro amigo seu não teve essas mudanças, apesar de ter passado por contextos e circunstâncias parecidas. A resposta me parece simples: isso se dá porque cada criatura humana é única, cada pessoa possui um universo singular. E estamos tratando, aqui, de existência, não de lógica matemática.
***
As mudanças que uma pessoa realiza no decorrer de sua trajetória mundana não necessariamente indicam que ela está sendo contraditória, que não tem princípios, que deixou o poder subir à cabeça, ou coisas assim. 
É comum que muitos vejam a pessoa como um retrato existencial que foi feito dela há um tempo atrás. Esse retrato é como uma foto, que cristaliza a pessoa e mantém estática a imagem dela como se ela tivesse a necessidade de ser sempre daquela maneira.
***
Se olharmos para a nossa própria história veremos que algumas vezes fomos incompreendidos ou julgados por uma imagem existencial que fizeram de nós há muito tempo e que aqueles elementos que tem na foto não estão mais presentes em nossa vida. Por outro lado, provavelmente já utilizamos retratos existenciais de alguém que conhecemos, ou seja, olhamos para a pessoa como se ela fosse a mesma e tivesse os mesmos elementos de algo que não diz mais respeito a ela. 
O indicado é que os dados sejam atualizados, ou seja, que verifique-se como a pessoa está no mundo agora (e como estamos no mundo também), para não cairmos em equívocos e dubiedades que possam prejudicar nossas relações. 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O homem não está, naturalmente, vocacionado para a felicidade

"Por que Kant não concorda com Mill? Para Kant, a felicidade não é o que existe de mais importante. Para Kant, a felicidade não é o bem maior. Para Kant, a felicidade não é aquilo que devemos buscar de qualquer jeito. E por que não? Porque isso significaria usar um martelo para pintar uma parede; estamos com o instrumento errado. O homem não está, naturalmente, vocacionado para a felicidade. Ele não é construído para isso, ele não é feito para isso. Por quê? Porque ele é, antes de mais nada, um ser de reflexão, de pensamento. E o pensamento, segundo Kant, atrapalha a busca da felicidade, é um obstáculo para maximizar a busca do prazer e diminuir a dor. E, portanto, é muito mais competente para buscar o prazer e diminuir a dor quem não pensa. E quem não pensa e pode sentir prazer e dor são animais. Portanto, a teoria de Mill funciona para uma girafa, funciona para um macaco, funciona para um animal qualquer, mas não funciona para nós. Por quê? Porque o que existe de mais importante em nós é a capacidade de pensamento e a capacidade de pensamento não é o que existe de mais adequado para buscar a felicidade. Por isso, você julgar a conduta das pessoas em nome da felicidade é julgar pelo critério errado; funciona para animais."

Professor Clóvis de Barros Filho, em aula sobre sobre o pensamento de Kant.