Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

A cultura ou a ignorância - 27ª Feira do Livro de Bento Gonçalves


O escritor e músico Gabriel, O Pensador foi convidado para ser patrono da 27ª Feira do Livro de Bento Gonçalves/RS, que acontecerá neste ano de 2012. A Prefeitura Municipal optou, ainda, por contratar o artista para duas palestras para alunos da cidade e para o show musical de encerramento da Feira, além da compra de 2 mil livros (mil de “Diário Noturno” e mil de “Um garoto chamado Roberto”) para serem repassados às bibliotecas das escolas municipais como incentivo à leitura.

Agindo conforme orienta o bom censo e a legalidade, a Prefeitura divulgou os valores envolvidos nas atividades de Garbiel, O Pensador, R$ 169.430,00. Isso gerou certo desconforto para alguns escritores convidados que receberiam um cachê simbólico pela participação no evento, que foram à mídia e veicularam os milhares de reais a serem repassados para o artista como sendo cachê pela sua participação na Feira do Livro e por ser ele o patrono da mesma. Estava instalado o mal entendido.

Gabriel, O Pensador veio a público para esclarecer o que estava acontecendo. Segundo ele, no valor estavam incluídos todos os serviços e impostos de suas atividades. Ele citou algumas: a venda dos 2 mil exemplares de livros a R$ 35,00 cada, que resulta em R$ 70.000,00, mais R$ 2.016,00 de 2,88% de imposto; passagens aéreas, diárias de alimentação, hospedagem e transporte terrestre para o recebimento da faixa de patrono, que fecharia em cerca de R$ 2.093,00; os mesmo serviços para as palestras, outros R$ 2.093,00; para o show, R$ 60.000,00, mais R$ 10.200,00 de 17% de imposto, mais passagens, hospedagens, transporte e alimentação para a banda e a equipe, R$ 18.568,00; material e equipe de produção de DVD, R$ 3.890,00, mais R$ 661,98 de 17% de impostos; entre outros valores que chegam aos tão comentados R$ 169.430,00. Pela polêmica que se tornou sua presença na Feira do Livro, a Prefeitura Municipal e o artista chegaram ao consenso de não haver mais a compra dos livros para o repasse às escolas, tampouco o show musical de encerramento do evento. Gabriel, O Pensador, porém, não abriu mãos de ser o patrono da feira e o fará de forma gratuita.



Como estamos vivendo um momento do politicamente correto, não é de se espantar que se faça sensacionalismo em torno de algumas temáticas no intuito de desviar o foco de outras.

Ora bolas! O que significa R$ 170.000,00 para ser investido em cultura e educação? Garanto que se os valores referentes à contratação dos serviços de Gabriel, O Pensador não tivessem sido divulgados, nada disso teria acontecido e tudo sairia conforme programado, com entrega de livros às bibliotecas escolares, palestras, show e tudo mais. E digo mais: as cifras de R$ 170.000,00 são desviadas de tantas coisas cotidianamente neste nosso Brasil hipócrita e para isso não acontece nada. Chegamos ao ponto de estar quase se tornando lei que enriquecimento ilícito é crime. Ah, mas que comédia mesmo! Se uma pessoa fatura R$ 5.000,00 por mês, não é o correto que ao final do ano (que tem só 12 meses) ela tenha acumulado algo em torno dos R$ 60.000,00? Não é estranho que uma pessoa, nas circunstâncias citadas, chegue ao final do ano com uma conta bancária de R$ 300.000,00? De onde vem a grana? Depósito transcendental divino?
                Ademais, voltando ao episódio de honorários para escritores, artistas etc, etc... não é digno que os mesmos recebam por seu trabalho? Ou hão de se alimentar de luz, de andar com lençóis cobrindo o corpo, andando descalços? Talvez por alguns elementos arraigados na educação brasileira, a cultura é algo que não merece investimentos. Parafraseando a ilustre frase de Derek Bok, se custear a cultura está caro, arcar com o preço da ignorância será ainda pior.

sábado, 21 de abril de 2012

2037: que Brasil será o seu?

Este é o título de um artigo de Carolina Fuhrmeister, Diretora do Fórum da Liberdade, publicado no Jornal Zero Hora. Nele, Fuhrmeister apresenta alguns dados referentes à realidade do Brasil no cenário mundial: somos a 6ª economia do mundo, estamos na 84ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ocupamos a posição 104 em infraestrutura, na qualidade do sistema educacional estamos no 115º lugar, no índice de percepção da corrupção estamos em 73º (o que significa um rombo nos cofres públicos de cerca de R$ 82 bilhões por ano em falcatruas) e temos 16 milhões de pessoas na miséria.
Fuhrmeister aponta que planejamento não é forte do Brasil, pois a previsão para os próximos 4 anos é que sejam gastos 70 bilhões com a Copa do Mundo e com as Olimíadas.
A autora afirma que "guerreiro esse povo é. Mas ainda nos faltam grandes doses de atitude".

Que Brasil eu estou construindo para as próximas gerações? Não sei se estou conseguindo por em prática, mas o país que eu quero é um país em que, no mínimo, as pessoas consigam pensar de forma que não sejam apenas meras reprodutoras do que é posto pelo sistema.
Pouco? Utopia? Pode ser. Mas é meu trabalho de formiguinha, lento e gradual. Quem sabe vá fazer alguma diferença algum dia. E se não fizer, fuck you too!   

Música tema: Marilyn Manson - Mutilation is the most sincere form of flattery

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Do filme "Medianeras - Buenos Aires na era do amor digital"

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Quem será que foram os gênios que taparam os rios com prédios e o céu com fios? Tantos km de cabos servem pra nos unir ou nos afastar? Cada em seu lugar...
A telefonia celular invadiu o mundo com a promessa de te deixar conectado sempre, mensagens de texto! Uma nova linguagem adaptada a 10 teclas que reduz as nossas línguas mais belas a um vocabulário primitivo limitado e sem cultura.
O futuro está na fibra ótica e no céu limpo! Dentre tantas vantagens eles prometem que você conseguirá ajustar a temperatura de sua casa mesmo estando no trabalho, é claro que eles já sabem que não tem ninguém te esperando com a casa quentinha.
Bem vindo à era das relações virtuais.
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Como diria o Chorão, "cuide de quem corre do teu lado e quem te quer bem. Essa é a coisa mais pura".

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Por uma nova ética

O Supremo Tribunal Federal (STF) me chamou para eu dar meu voto no julgamento que pede a liberação ou a descriminalização do aborto para fetos sem cérebro. Num primeiro momento eu fiquei surpreso, mas vesti uma toga preta e lá fui eu.

Depois de cumprimentar os ministros que tem poder de decisão, tratei de deixar bem claro que eu não sou ministro, não sou advogado, não sou desembargador, não sou juiz, não sou deputado, não sou padre e nem pastor, não sou médico, não sou cientista, não sou santo, não sou nenhuma divindade e, mesmo não sabendo o motivo pelo qual eu estava ali dando meu veredito, disse que não queria afrontar ou ofender alguém com minhas considerações.

Eu estava trêmulo. Que caminhos percorrer?

- “Meus caros, quando começa uma vida? Quando o óvulo é fecundado pelo espermatozoide? Com a passagem de alguns meses de desenvolvimento do feto? A vida começaria, talvez, no nascimento?

Bem, permitam-me algumas considerações. A partir do surgimento do Cristianismo, a vida passou a ter um caráter sagrado, sendo que a vida humana foi sobreposta à vida de qualquer outro ser. Esta ideia cristã perpassou tradições e perdurou por mais de dois mil anos. Somente há pouco tempo algumas pessoas começaram a contrapor as verdades advindas dos dogmas cristãos, fazendo surgir novas visões de mundo e ampliando as possibilidades de reflexões éticas.

Peter Singer é uma destas pessoas que apresentaram novos paradigmas para a humanidade. Ele propõe uma ética teleontológica, na qual o valor de uma ação é medida por seu fim, por seu resultado. Nesta perspectiva utilitarista, Singer requer que imaginemos as possíveis consequências de nossos atos. Segundo suas considerações, uma ação será moralmente boa quando seus resultados proporcionarem um aumento de felicidade ou uma diminuição da dor da maioria dos afetados por tal ação.

Para a ética tradicional calcada em valores arraigados há milênios, a ética proposta por Singer é insustentável, pois vários de seus elementos entram em conflito com o que a tradição nos legou. A vida possui um valor sagrado, estando acima de todo e qualquer aspecto, privar alguém dela é pecado, homicídio, crime. No rompimento que Singer promove com o que ele chama de velha ética, a eutanásia e o aborto são elencadas como atitudes que podem ser moralmente aceitas e justificáveis, de tal forma que tais atos sejam descriminalizados.

Visto que a proposta singeriana leva em consideração o aumento de felicidade ou a diminuição da dor, interromper uma gravidez na qual foi detectada anencefalia é uma atitude considerada moralmente boa. Isto devido ao sofrimento de todos os envolvidos numa gestação nestes termos, nos quais nem imaginamos o quão doloroso seja, tanto física quanto psicologicamente.

Cabe ressaltar que quando estamos na esfera da ética, a decisão final é sempre do indivíduo. Portanto, se é o desejo de uma mãe ou da família que seja interrompida uma gravidez de um feto anencefálico, não é o Estado ou a Igreja quem deve intervir em tal decisão. Se uma pessoa manifesta conscientemente seu desejo de não permanecer em estado vegetativo, em coma induzido caso isso venha lhe acontecer, quem tem poder de desautorizar esta decisão? Da mesma forma, se uma família decide que é melhor que os profissionais da saúde desliguem os aparelhos daquele familiar que está vegetando já há algum tempo, é o juramento dos médicos que impede que isso se realize?

Devemos pensar, sim, em garantir o direito à plenitude da vida. Mas não devemos confundir o direito à morte com crime, com homicídio.

Tenho meus motivos, portanto, para votar a favor da descriminalização do aborto em casos de má formação genética que indicam anencefalia. E meu voto se dá neste sentido.

Obrigado pela atenção”.

Antes mesmo do relator dar prosseguimento ao ato, eu acordei suado. Meu quarto escuro ao invés da luminosidade da sede do STF, sozinho, ao contrário dos holofotes daquele agitado lugar, de cueca no lugar da toga e com a convicção de que o resultado seria favorável ao que havia sido encaminhado para votação.