Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

3 doses de Nietzsche, sem gelo*

1- Sobre o espírito livre (Espírito livre , um conceito relativo):
"Chama-se espírito livre àquele que pensa de forma diferente do que se espera dele, em virtude de sua origem, do seu meio, da sua posição e do seu ofício, ou em virtude dos pontos de vista dominantes da época. Ele é a exceção, os espíritos subordinados são a regra. [...] Ele terá ao seu lado a verdade, ou, pelo menos, o espírito da busca da verdade: ele exige razões, os outros, crenças."

2- Sobre a origem da crença (Origem da crença):
"O espírito subordinado não toma a sua atitude por razões, mas por hábito; é, por exemplo, cristão não porque tivesse examinado as diferentes religiões e escolhido entre elas, é inglês não porque se tivesse decidido pela Inglaterra, mas porque encontrou o cristianismo e a nação inglesa e os adotou sem razões, como alguém que nasceu num país vinícola se torna bebedor de vinho. [...] Obrigue-se, por exemplo, um espírito subordinado a apresentar as suas razões contra a bigamia, e verificar-se-á, então, se o seu zelo sagrado pela monogamia assenta-se em razões ou no hábito. É a habituação a princípios espirituais sem razões que se chama crença."

3- Sobre os homens ativos e escravidão (Principal defeito dos homens ativos):
"Aos ativos falta, habitualmente, a atividade superior: refiro-me à individual. Eles são ativos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas [...] Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda atualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito."

*Extraídas de 
Humano, Demasiado Humano

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Excito-me pensando"

A frase do título do post é de um dos precursores do existencialismo, Fiódor Dostoiévski. Nunca tinha lido nada deste autor, até que numa visita a uma banca de revistas vi um livro em edição de bolso com partes de Notas do Subsolo e de O Grande Inquisidor, capítulo de Os Irmãos Karamázov. Deixo aqui algumas citações que destaquei deste escritor que considerou o momento histórico a que o homem está submetido e compreendeu nossa grandeza trágica, já que estamos divididos entre nossa liberdade e nossos abismos mais profundos.
Boas reflexões.

"Jamais consegui me tornar nada, nem mesmo me tornar malvado; não consegui ser belo, nem mau, nem canalha, nem herói, nem mesmo um inseto. E, agora, termino a existência no meu cantinho, onde tento piedosamente me consolar, aliás, sem sucesso, dizendo-me que um homem inteligente não consegue nunca se tornar alguma coisa, e que só o imbecil triunfa. Sim, meus senhores, o homem do século XIX tem o dever de ser essencialmente destituído de caráter; está moralmente obrigado a isso. O homem que possui caráter, o homem de ação, é um ser essencialmente medíocre. Tal é a convicção de meus quarenta anos de existência."

"O homem se vinga porque considera que isso é justo. Encontra então o princípio fundamental que procurava: é a justiça."

"O homem é bruto, terrivelmente bruto, ou, melhor dizendo, não é tão bruto quanto ingrato, e é difícil encontrar quem seja mais ingrato que ele."

"Nossos desejos se enganam muito frequentemente, porque nos enganamos na avaliação dos nossos interesses."

"Se o coração não é puro, a consciência não pode ser clarividante, nem completa".

"Todo homem honesto em nossa época é necessariamente um covarde, um escravo."

"Os pais amam sempre as filhas, mais que as mães. As filhas são geralmente felizes na casa paterna."

"Ninguém deve conhecer o que se passa entre marido e mulher, se eles se amam verdadeiramente. Quaisquer que sejam as desavenças, não devem tomar como juiz nem mesmo sua mãe e nem contar seja o que for. São eles mesmos os seus próprios juízes. O amor é um mistério divino e que deve permanecer escondido aos olhos de todos, aconteça o que acontecer. É melhor assim, é mais santo."

"Oh maldito romantismo dos corações puros! Oh vileza! Oh burrice! Oh mediocridade dessas vulgares almas sentimentais."

"Não tenho vergonha da minha pobreza... Ao contrário, estou orgulhoso dela. Sou pobre, mas sou honesto."

"Não há nada de mais sedutor para o homem que o livre arbítrio, mas também nada mais doloroso."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os dias melhores começam com a gente mesmo - e agora!

Vejamos uma mesma história, porém por paradigmas distintos. Que cada um(a) analise e possa refletir a respeito. A cena é a seguinte.

Um pai de família está ocupado ajudando sua esposa a preparar o almoço. Ele pede, então, que o seu filho vá até a padaria e compre pães. A cédula de dinheiro que o pai dá ao filho é do valor total de pães que a família necessita, ou seja, uma nota de R$ 5,00. O filho recebe a seguinte orientação: "filho, vai na padaria, fazendo favor, e peça cinco reais de pães". Uma dica simples para um adulto, talvez um pouco complicado para Joãozinho, um menino de 8 anos pouco acostumado a fazer compras.
O garoto se desloca até a padaria e ao chegar no balcão a atendente nem o cumprimenta e já recebe o pedido: "tia, eu quero cinco reais de pães". Ela providencia os pães e a criança entrega os R$ 5,00 para ela. Provavelmente por ter confundido a cédula de dinheiro, a atendente vai até o caixa e trás R$ 5,00 de troco para Joãozinho. Como ainda não tem propriedade sobre como funciona essa coisa de fazer compras, Joãozinho volta para casa com os pães e com R$ 5,00. 
Surpreso, seu pai pergunta se ele deu o dinheiro para a tia da padaria. Joãozinho afirma que sim. E que ela foi no caixa e devolveu esse dinheiro de troco.

Paradigma 1
O pai certamente percebe que a atendente se equivocou na devolução do troco para o Joãozinho (neste caso específico não havia troco a ser devolvido). Ele se dirige com Joãozinho até a padaria, pede que ele mostre quem o atendeu e então chama a moça. "Senhora, meu filho esteva aqui há pouco. Eu dei R$ 5,00 para ele e pedi que ele levasse em pães, mas ele voltou com os mesmos R$ 5,00. Acho que a senhora se enganou. Não precisava devolver troco algum. Esses R$ 5,00 são da padaria. Desculpa o inconveniente. Tenha um bom dia".
E logo explica para o Joãozinho que aquele dinheiro não pertencia à família, que a tia da padaria tinha se enganado e que o dinheiro tinha que ser devolvido, porque isso era a coisa certa a se fazer.
Pai e filho seguem, então, para casa onde se juntam com a esposa/mãe para confraternizaram no almoço.

Paradigma 2
O menino chega com os pães e com os R$ 5,00. Ao devolver o dinheiro para o seu pai, este ri e comenta com a esposa "olha só que otária aquela mulher da padaria, devolveu troco para o Joãozinho e nem precisava devolver troco algum". Ele dá o dinheiro para o menino e diz para ele comprar pirulitos ou fazer o que quisesse com o valor.
O menino corre para a rua, o pai fica almoçando no sofá, em frente à televisão, enquanto a esposa almoça sozinha à mesa.

Eu sou adulto e meu prazo de validade está se esgotando. Mas tem muita criança que tem uma vida inteira pela frente.  
Que educação estamos passando para elas? Quais os valores e exemplos elas estão recebendo de nós? Queremos um mundo melhor no futuro (partindo do aqui e agora, sem deixar para depois) ou pouco importa no que vai virar esse planeta?

Somos livres para pensar. Façamos isso!
E que os laços entre o discurso e as atitudes se estreitem, que diminua o precipício entre a teoria e a prática.


Salute e forza.
Seguimos em frente, 
buscando dias melhores.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Crônica Sobre o (mau) Tempo

Não quero tratar do tempo de forma ampla e profunda, como fez Kant. O alemão era 'expert' em metafísica e talvez tenha sido quem mais se dedicou a esta categoria.

Muitas pessoas, após um evento traumático, seja um acidente, o término de um relacionamento, a perda de um ente querido, costumam dizer que o tempo é o melhor remédio. Quando eu ouço isso, penso com meus botões: se tempo fosse o melhor remédio, será que não teria tempo em gotas, em ampolas e pílulas à venda nas farmácias?
Siiim, de fato o tempo é o melhor remédio para algumas pessoas, em determinadas circunstâncias. E para tantas outras, o tempo passa e não produz efeito algum sobre os percalços que as assolaram. 
Como diria meu querido Wil Goya, "sem contexto, tudo é nada".

Não há como parar o tempo. Podemos raptar todas as pilhas de relógios de pulso, de parede e de bolso (ah, estes acho que existiam só num tempo muito remoto - ou será que os relógios de bolso sobreviveram ao tempo?), podemos incendiar todas as baterias de celulares, iphones, tablets, notbooks, computadores de mesa, podemos derrubar as torres das catedrais e seus gigantescos instumentos que indicam os horários em que os sinos soam... e ainda assim o tempo continuará nos ignorando.
Nós é que não temos como ignorá-lo. Estamos presos ao tempo. Ou melhor, aos tempos. Costumamos jogar passado, presente e futuro no liquidificador da vida e ligamos o aparelho na valocidade máxima. Seja o que for que resulta disso, lá está o tempo a circundar nossas escolhas, nossas lembranças, nossas vivências, nossas projeções.
Tempo objetivo, marcado pelo relógio. Tempo subjetivo, aquele que acreditamos controlar.

Para algumas pessoas, tempo amigo, bom aliado na cicatrização de chagas profundas. Para outros, tempo desgraçado, que insiste em infeccionar as feridas.
E saber que o tempo está nem aí cagando para nós...

Já o mau tempo, aquele que vem acompanhado de fortes rajadas de vento e de trovoadas que transformam a noite em dia por alguns segundos, mudando a coloração do céu e o ritmo dos batimentos cardíacos, esse eu passei a temer depois que num temporal minha casa foi descoberta.
Eita sensação desagradável cada vez que o céu vai dando sinais de que a natureza está revoltada com as atrocidade cagadas que o ser humano fez ao longo da história. 

A boa notícia é que o mau tempo já não me preocupa mais como há puco tempo atrás. Tenho experimentado ouvir música com fone de ouvido no volume mais alto que o barulho provocado pelo mau tempo. E não é que tem dado certo?! 
E minha mãe tem se mostrado uma santa no quesito espantar tempo feio. Ela anda pela casa toda, faz caretas, esfrega as mãos, lê trechos da bíblia, joga água benta pela janela, fuma uns cigarrinhos para tentar aliviar a tensão...
O problema agora é que eu passei a temer por incêndios. O que aquela mulher tem queimado de ramos e galhos é coisa impressionante!

E tem dado certo.
Mãe eu te amo!