O escritor e
músico Gabriel, O Pensador foi convidado para ser patrono da 27ª Feira do Livro
de Bento Gonçalves/RS, que acontecerá neste ano de 2012. A Prefeitura Municipal
optou, ainda, por contratar o artista para duas palestras para alunos da cidade
e para o show musical de encerramento da Feira, além da compra de 2 mil livros
(mil de “Diário Noturno” e mil de “Um garoto chamado Roberto”) para serem
repassados às bibliotecas das escolas municipais como incentivo à leitura.
Agindo
conforme orienta o bom censo e a legalidade, a Prefeitura divulgou os valores
envolvidos nas atividades de Garbiel, O Pensador, R$ 169.430,00. Isso gerou certo
desconforto para alguns escritores convidados que receberiam um cachê simbólico
pela participação no evento, que foram à mídia e veicularam os milhares de
reais a serem repassados para o artista como sendo cachê pela sua participação
na Feira do Livro e por ser ele o patrono da mesma. Estava instalado o mal
entendido.
Gabriel, O
Pensador veio a público para esclarecer o que estava acontecendo. Segundo ele,
no valor estavam incluídos todos os serviços e impostos de suas atividades. Ele
citou algumas: a venda dos 2 mil exemplares de livros a R$ 35,00 cada, que
resulta em R$ 70.000,00, mais R$ 2.016,00 de 2,88% de imposto; passagens
aéreas, diárias de alimentação, hospedagem e transporte terrestre para o recebimento
da faixa de patrono, que fecharia em cerca de R$ 2.093,00; os mesmo serviços para
as palestras, outros R$ 2.093,00; para o show, R$ 60.000,00, mais R$ 10.200,00 de
17% de imposto, mais passagens, hospedagens, transporte e alimentação para a
banda e a equipe, R$ 18.568,00; material e equipe de produção de DVD, R$
3.890,00, mais R$ 661,98 de 17% de impostos; entre outros valores que chegam
aos tão comentados R$ 169.430,00. Pela polêmica que se tornou sua presença na
Feira do Livro, a Prefeitura Municipal e o artista chegaram ao consenso de não
haver mais a compra dos livros para o repasse às escolas, tampouco o show
musical de encerramento do evento. Gabriel, O Pensador, porém, não abriu mãos
de ser o patrono da feira e o fará de forma gratuita.
Como estamos
vivendo um momento do politicamente correto, não é de se espantar que se faça sensacionalismo
em torno de algumas temáticas no intuito de desviar o foco de outras.
Ora bolas! O
que significa R$ 170.000,00 para ser investido em cultura e educação? Garanto
que se os valores referentes à contratação dos serviços de Gabriel, O Pensador não
tivessem sido divulgados, nada disso teria acontecido e tudo sairia conforme
programado, com entrega de livros às bibliotecas escolares, palestras, show e
tudo mais. E digo mais: as cifras de R$ 170.000,00 são desviadas de tantas coisas
cotidianamente neste nosso Brasil hipócrita e para isso não acontece nada.
Chegamos ao ponto de estar quase se tornando lei que enriquecimento ilícito é
crime. Ah, mas que comédia mesmo! Se uma pessoa fatura R$ 5.000,00 por mês, não
é o correto que ao final do ano (que tem só 12 meses) ela tenha acumulado algo
em torno dos R$ 60.000,00? Não é estranho que uma pessoa, nas circunstâncias
citadas, chegue ao final do ano com uma conta bancária de R$ 300.000,00? De
onde vem a grana? Depósito transcendental divino?
Ademais,
voltando ao episódio de honorários para escritores, artistas etc, etc... não é
digno que os mesmos recebam por seu trabalho? Ou hão de se alimentar de luz, de
andar com lençóis cobrindo o corpo, andando descalços? Talvez por alguns
elementos arraigados na educação brasileira, a cultura é algo que não merece
investimentos. Parafraseando a ilustre frase de Derek Bok, se custear a cultura
está caro, arcar com o preço da ignorância será ainda pior.