Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

15 doses de Bukowski*

Sensacionais algumas passagens dos poemas do Bukowski. Palavras viscerais, ditadas pela experiência de vivências intensas e/ou devaneios complexos.
Nunca é demais compartilhar.
=)

Desempenhando
[...] às vezes o cheiro do amor e sempre o cheiro do sexo
[...] mas várias vezes
nos momentos mais intensos
e apaixonados
eu desejei se aquele
cara solitário novamente
sentado no cinema com
meu pacote de pipoca
enquanto ao meu redor
casais se sentavam
juntos
lado a lado."

Todas, uma boa tentativa
"[...] refletindo sobre o meu fértil passado
lembro de todas as mulheres que conheci
que no início do namoro 
já estavam desanimadas e in-
felizes por causa de suas tristes
experiências anteriores com outros
homens.
eu era considerado apenas mais uma
parada no meio do caminho
e talvez eu 
fosse e talvez eu não fosse.
as mulheres há tempos eram usadas e ab-
usadas
enquanto certamente acrescentavam sua porção de
abuso
à mistura."

Moça na escada rolante
[...] observo ele acompanhando ela
pela
escada rolante, seu braço
de forma protetora na cintura
dela, pensando que tem
sorte,
pensando que é um cara muito 
especial, pensando que
ninguém no mundo tem
o que ele tem.
e ele está certo, terrivelmente
terrivelmente certo"

Uma definição
"amor é uma luz à
noite atravessando o nevoeiro
[...] amor é o que você acha que a outra
pessoa destruiu
[...] amor é tudo que nós dissemos
que não era
[...] e amor é uma palavra usada
muitas vezes e
muitas vezes
cedo demais.

Um poema de amor
[...] não fui nem depravado nem
desleal. apenas
um aprendiz.
[...] as melhores no sexo nem sempre são as
melhores em outros 
assuntos; cada uma tem limites assim como eu tenho
limites e nos descobrimos
um ao outro
rapidamente."

Então você quer ser escritor?
"[...] a não ser que saia de 
sua alma como um foguete,
a não ser que ficar parado te
leva à loucura ou
ao suicídio ou assassinato,
não faça.
a não ser que o sol dentro de você esteja
queimando suas vísceras,
não faça."

O poema
"[...] o poema não é grande coisa
mas deixa eu te dizer
se não tivesse descoberto
ele
eu estaria morto"

Às vezes quando você fica triste há uma razão
"é preciso apenas 6 ou 8 líderes políticos inaptos
ou 8 ou 10 escritores, compositores e pintores pedantes para
fazer o curso natural do desenvolvimento humano
retroceder
50 anos
ou mais."

A índole da multidão
"[...] e os melhores, na guerra
- no final - são os que 
pregam 
a paz.
[...] Cuidado Com Os Que Sempre Procuram
Multidões; Eles Não São Nada
Sozinhos."

Um truque para atenuar nosso sangramento
"[...] e o fracasso não foi nada maisque um
truque
para nos fazer continuar,
e a fama e o amor
um truque para atenuar nosso sangramento.
[...] palavras bonitas
assim como mulheres bonitas,
ficam enrugadas e morrem."

Está feito
"[...] se queixar sobre velhas feridas é
um estúpido desperdício do coração."

Fim
"[...]nós já matamos a nós mesmos
a cada dia que levantamos da cama."

Nós, dinossauros
"[...] nascemos nisso
em hospitais tão caros que é mais barato morrer
em advogados que cobram tanto que é mais barato
se declarar culpado
num país onde as cadeias estão lotadas e os hospícios fechados
num lugar onde as massas promovem idiotas a heróis ricos
nascemos nisso
caminhando e sobrevivendo a isso
morrendo por causa disso
mudos por causa disso
castrados
depravados
deserdados
por causa disso
enganados por isso
usados por isso
desprezados por isso
ficando loucos e doentes por isso
ficando violentos
ficando desumanos
por isso"

Paraíso bastardo
"[...] mas o destino não é o único 
culpado.
nós desperdiçamos
nossas oportunidades,
nós estrangulamos
nossos próprios corações."

Jogue os dados
"se você tentar, vá até o 
fim.
caso contrário, nem comece.
[...] isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos e 
talvez sua sanidade.
[...] solidão é uma dádiva."
           

                                                                                  *Trechos extraídos de

terça-feira, 2 de abril de 2013

Em que eu acredito?


            Religião é um tema um tanto delicado de conversar, sobretudo com quem tem uma visão unilateral e dogmática a respeita do mesmo. Por se tratar da fé das pessoas (e isso merece ser respeitado profundamente) geralmente o que se tem a fazer é ouvir a opinião da outra pessoa e entendê-la como legítima, contextualizando isso na história de vida dela. E ao expor a própria opinião não precisa ser ofensivo ou tentar convencer o outro a migrar para o mesmo credo que você. O mundo é muito vasto e nele tem espaço para todos, cada qual do seu modo, do seu jeito.
            Vez ou outra em converso com algumas pessoas que fazem parte de alguma religião ou que frequentam algum ritual religioso. Isso é uma opção existencial. Geralmente a institucionalização da fé acaba transformando a espiritualidade em religiosidade. E em casos assim o diálogo fica mais para monólogo. É quase inevitável que eu comunique a minha posição quanto aos assuntos apresentados. Acho interessante esse jogo de argumentos, embora perceba que a maioria deles já vem encaixotado/fechado de acordo com o que prega a doutrina que é seguida.
            Em alguns casos e para algumas pessoas a fé indispensável. Mas a fé cega, restrita aos dogmas das religiões, é um tanto perigosa, pois pode levar o indivíduo a uma alienação muito grande, deixando-o à mercê do que diz o padre, o bispo, o pastor. Às vezes esses que se intitulam como representantes de um sobrenatural na terra mais trabalham para tornar as pessoas ignorantes, quando na verdade deveriam esclarecê-las ou fazer outras coisas que não o que fazem. Com fé não se brinca. Ou ao menos não se deveria brincar.
            Há muito tempo me tornei agnóstico. Não tenho conhecimento, não posso saber da existência ou não de um ser sobrenatural, tampouco seus atributos e outros aspectos com relação a isso. Eu não sei. Simples assim. A capacidade humana é limitada e não temos alcance para saber/conhecer isso. O que existem são as crenças. Alguns acreditam na existência de um deus, ou de deuses, outros não acreditam. Eu estou mais para estes últimos. Então, recapitulando, sou agnóstico por não ter conhecimento, por não saber da existência de um sobrenatural e sou ateu por não acreditar nessa existência.
            Ter esses posicionamentos não me faz uma pessoa antiética, sem compaixão, desumana, et cetera e tal. Ser uma pessoa honesta e não fazer mal às pessoas, aos animais e ao planeta como um todo não necessariamente tem a ver com a crença religiosa. São coisas distintas. Algumas pessoas só agem assim impulsionadas pela fé, pela crença. Isso decorre, talvez, do entendimento de que Deus seria uma espécie de punidor das pessoas pelas coisas erradas que elas cometem e recompensador das mesmas pelas seus acertos. Meio infantil pensar assim, mas respeito que tem isso incutido sobre os ombros. E volto a afirmar, ética não tem a ver com religião. Se tivesse, pessoas religiosas não cometeriam algumas enormes atrocidades que vimos por aí.
            Eu costumo me questionar sobre dois pontos, já que admito não ter conhecimento, não saber sobre. Na hipótese afirmativa da existência de um sobrenatural e que ele possua algumas características que costumeiramente o são atribuídas, tal como onisciência, onipotência, onipresença, que ele seja infinitamente bom, infinitamente acolhedor e tudo mais que a tradição nos lega, (1) esse sobrenatural tem poder para interferir nas ações humanas? (2) Se tem, porque não o faz e permite que coisas más aconteçam com pessoas boas, com pessoas inocentes? Além dessas inquietações, outras coisas me instigam com relação ao assunto, mas vou abortar por aqui para não me estender muito e não correr (ainda mais) o risco de incompreensão ou julgamento equivocado.  
            É raro, após eu elucidar um pouco das minhas crenças (ou falta delas) não ouvir a pergunta “Mas então em que você acredita?” Não é uma resposta fácil. Há uma ebulição de ideias que apontam alguns caminhos. Costumo dizer que acredito nas pessoas, acredito no amor como sendo algo que dá sentido e movimento ao universo. Sim, o amor é o que nos move. Não esse amor romântico vendido nas bancas de revistas, nas novelas, nos faz-de-contas. Mas o amor como uma disposição para empenhar-se em fazer as coisas dando o melhor de si sem esperar nada em troca e sem querer tirar proveito sobre situações ou pessoas. Para alguns isso pode até parecer simplista, ou utópico, ou ridículo. Mas é isso. É nisso que eu acredito. É assim que eu me posiciono no mundo. É assim que eu vivo.
            Me desatei a escrever sobre essas coisas depois de ter lido, dias atrás, esse texto (clica pra ver) do David Coimbra, no qual ele fala de um câncer que culminou com a retirada de um rim. Sobre a situação ele fala do carinho e o apoio recebido das pessoas “Não há nada transcendental aí; o que há são as pessoas. Os homens. O homem que inventa a bomba atômica, mas que também desenvolve a medicina nuclear, o homem é, sim, o lobo do homem, mas também o seu consolo e a sua salvação. Depois de olhar na cara da morte, vi que a vida está na relação com as outras pessoas. As pessoas, as pessoas. Os outros seres humanos é que nos tornam humanos”.
            Minha pretensão com isso tudo? Instigar a reflexão e o senso crítico, lembrar que o preconceito não faz bem à nossa alma, quebrar algumas correntes que nos aprisionam e nos impedem de vislumbrar o que a vida tem a nos oferecer. Essas e algumas coisitas mais.
            Abraço de paz!