Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O homem como invenção de si mesmo

Saudações, terráqueos!
Minha leitura da madrugada foi bem interessante. Depois daquele café forte que eu sabia no que ia dar, fiquei zumbiziando até umas horas. O suficiente para ler O homem como invenção de si mesmo - monólogo em um ato, do Ferreria Gullar. Um livro de 70 páginas que na verdade foi pensado para ser uma peça teatral. Segue, então, um esqueleto do que se trata e, claro, alguns recortes literais da obra.

A temática central gira em torno do título da obra, ou seja, o homem como invenção de si mesmo. O autor afirma que a obra consiste em explicitar a teoria segundo a qual "a vida é inventada e que nós mesmos nos inventamos". 
Nos primeiros passos, ou nas primeiras páginas, surge a questão da inserção do bicho homem a uma cultura, o que nos torna seres humanos. Somos, então, seres naturais, constituídos por traços biológicos, naturais; por outro lado, somos seres culturais, o que nos permite a criação, a inventividade. "O homem quando nasce é ninguém. Ele se torna gente pela educação, pela cultura, pelo que lhe ensinam. Ele já encontra um mundo humano inventado e nele se integra; outros decidem reinventá-lo."
Tão logo inicia essa reflexão, aflora a questão de uma divindade. Para Gullar, "Deus é de fato a resposta que o homem encontrou para a mais angustiante de todas as perguntas: a vida tem sentido?" Segundo ele a resposta é negativa. "A vida não tem sentido. Nós é que lhe atribuímos sentido." A tese do autor é que o próprio homem inventou Deus para, de certa forma, responder inquietações que a consciência nos impõe, tais como "por que existo? Por que terei que morrer um dia? Será a morte o fim de tudo?" Para preencher a sensação de desamparo e lançar esperança numa vida após a vida terrena é que o homem criou a imagem do sobrenatural. Afinal, "é insuportável viver ao sabor do acaso, sujeito a forças que a gente não controla. Mais uma razão para existir Deus, Ele é o oposto do acaso. A Providência Divina nos faz acreditar que estamos protegidos, que vivemos em segurança".
Intrínseca a essa reflexão sobre a divindade está a temática das religiões. Elas ditam o que é certo e o que é errado e isso faz com que, desde cedo, as crianças aprendam a seguir a cartilha. O pensamento ou comportamento que destoe do que pregam os dogmas religiosos é considerado pecado. E quem peca ou se arrepende e não comete mais o erro, ou vai paro o inferno. Isso mesmo. Inferno, outra invenção humana carregada de significado religioso. Imagina então como fica a cabeça de uma criança com toda essa coação...
Pois bem, o primeiro pecado tem a ver com Adão e Eva. Portanto, muitos dos tabus, preceitos e preconceitos sexuais vem daí. E eu pergunto, o que eu e você temos a ver com pecado original? A condenação do sexo a ponto de torná-lo pecado é um dogma insustentável, segundo o autor, pois sexo é uma coisa natural, animal, instintual. Para dar uma falsa impressão de liberdade a Igreja Católica diminuiu o ímpeto a passou a permitir o sexo, desde que os casais se unam de acordo com as leis da igreja. "Mas só pode transar se for para procriar. Transar por transar, só para ter prazer, não pode. Nada de sacanagem, beijinho aqui, beijinho ali, mãozinha, dedinho, nada disso. Trepar é coisa séria. Papai-mamãe. Meteu, gozou, tirou e pronto. Nada de ficar gemendo, revirando os olhos, se torcendo de gozo na cama. Quem faz isso só pode estar com o Diabo no couro."
Retomando e finalizando, ao mesmo tempo. O homem é invenção dele próprio, ele se inventa e se reinventa de acordo com sua constituição animal, no contato com a cultura e o que advém dela e segundo a significação que atribui ao que se lhe apresenta. É isso o que expressa o conceito de constituição bio-psico-social. 
Creio que esses sejam os principais pontos desse pequeno livro, mas com profundo conteúdo filosófico, religioso, psicológico.
Quem refletiu até aqui provavelmente tem alguma coisa para refutar, para acrescentar, para criticar. Fique à vontade para tanto.


Fica a indicação de leitura dO homem como invenção de si mesmo.

Adiós.

Abrazo.

3 comentários:

  1. ótimo, ...apesar de Deus ser uma invenção humana talvez seja o que manteve e ainda mantêm a sociedade estruturada, organizada, em "ordem", acredito que se a sociedade perder a razão da existência entrará em colapso e desordem...
    É só parar para analisar a sociedade a 20, 30, 50 anos atrás e olhar o hoje, antigamente a sociedade baseada na cultura religiosa mantinha mais a ordem do que atualmente. Os filhos respeitavam os pais, era mais evidente a instituição família, onde no topo estava o pai e a mãe.....

    ótimo post.
    forte abraço...

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    Respostas
    1. Obrigado pela considerações, Anônimo(a).
      "Todo ponto de vista é a vista de um ponto", já disse o teólogo Lenoardo Boff. É um tema delicado de ser tratado. Há de se ter um cuidado para não ofender a representação de mundo do outro que, seja ela qual for, é legítima.
      O blog tem essa pretensão instigar a reflexão. Tá funcionando.
      Abraço.

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  2. Muito bom. Gostei da mini resenha.
    Aqui da minha terrinha, Ferreira Gullar e Nauro Machado são os meus poetas preferidos.

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