Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Quando o silêncio diz mais que as palavras

Quando criança, ou mesmo quando adulto, provavelmente você queimou a mão em algum lugar. Ou então prensou o dedo numa porta, numa janela, num baú. Ou talvez tenha encarado aquela dor fazer uma tatuagem... Enquanto lia isso, se você passou por alguma coisa dessas, você pode ter sentido um desconforto, já que uma memória foi acessada.

O filósofo escocês David Hume afirmava que a sensação original de algo é mais forte e mais intensa do que a lembrança de tal sensação. Às vezes lembramos de algo claramente, como se estivéssemos de fato sentindo novamente aquilo que foi vivenciado no passado. De acordo com as considerações de Hume, isso se dá apenas de forma aproximada, sendo menos intensa que a própria vivência. Aplicando isso aos nossos exemplos, tal desconforto que citei acima é apenas uma aproximação da dor que sentimos ao termos queimado a mão no fogão, ou prensado o dedo na porta do carro, ou aturado o entra e sai das agulhas na pele.
No que passo a considerar a seguir, isso é deslocado para a condição de nos colocarmos no lugar do outro. Ou seja, podemos até fazer esse exercício, mas nunca sentiremos, de fato, aquilo que a pessoa sente - será sempre algo por aproximação, nunca de maneira exata, precisa. 

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Hipoteticamente, eis uma situação em que o teu melhor amigo te liga, emocionado, noticiando a morte do pai dele, ou da mãe, ou de uma pessoa que de certa forma era especial para ele. Na hora você vai meio que tentar negar a veracidade da notícia com algo do tipo "não acredito!", "sério?". Depois de desligar o telefone, um copo d´água para digerir o que lhe foi informado e provavelmente você começará a pensar na dor do teu amigo, dos familiares, dos conhecidos de quem acaba de partir. É nesse momento que não se mede esforços para tentar ajudar. 
O que geralmente costuma ser desconsiderado é a forma de ajuda que se está disponibilizando. Nessas circunstâncias difíceis um olhar, um aperto de mãos, um abraço, um carinho podem ser gestos nobres. Algumas palavras também podem ter alguma relevância. Porém, e muita atenção para este porém, gestos ou palavras jogadas ao vento podem surtir efeito reverso ou efeito algum em ocasiões assim. Isso porque a pessoa que você está disposta a ajudar está com a ferida aberta, com as funções do organismo debilitadas pelo choque, pelo cansaço de estar sem comer e sem dormir direito e pelos demais fatores e sintomas que uma perda pode trazer consigo.
O importante é se colocar no lugar do outro e ver as cosias com as prerrogativas dele. Não é uma tarefa fácil, pois nem todos conseguem se deslocar de seu próprio mundo e ir em direção ao mundo do outro. Fazer esse exercício ajuda a não cometermos equívocos quando, na verdade, nossa intenção era de ajudar, de ser útil, de confortar a pessoa que gostamos, como estamos tratando aqui.
De nada vai adiantar, por exemplo, tentar confortar seu amigo ateu com dizeres do tipo "ah, ela (a pessoa) vai estar melhor no lugar para onde foi". Ora, se seu amigo não confia na vida pós morte, essas palavras não vão ajudar em nada. Ou "foi melhor assim". Seu amigo pode pensar ou até mesmo lhe dizer "melhor pra quem?" ou "melhor pra você que não acabou de perder um irmão".
Entendo as manifestações de carinho em que cada um tenta, à sua maneira, minimizar a dor do outro. Geralmente isso costuma ser bom para quem enfrenta essa barra. Particularmente, e não é nada de insensibilidade - muito pelo contrário, prefiro um abraço e um silêncio. Voltando ao que introduziu esse texto, mesmo que nos desloquemos até o mundo do outro só conseguiremos sentir por aproximação aquilo que ele está sentindo.
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Concluo com o que Rubem Alves expôs num escrito seu chamado A Dor da Morte, presente no livro Pimentas - Para provocar um incêndio, não é preciso fogo.
"A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas tem poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosse tão importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou."
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