Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sucesso

Volta e meia me deparo com um dito que "o único lugar que o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário". A frase é creditada a Albert Einsten. Curioso que sou, visitei o dicionário para conferir o significado da palavra sucesso e fui informado que significa "resultado feliz, êxito; o que alcança bom resultado, fama".
Nos discursos de autoajuda que se espalham de forma viral pela internet o tal do sucesso é uma tônica. Parece que todos tem que remar seus barcos nesta direção. E, por incrível que pareça, muitas vezes apontam as coordenadas e como se faz para chegar no destino. Geralmente, quem faz isso parece não considerar algo muito importante: a história de vida de cada pessoa, que é única, singular. 
Ora, se nada se sabe a respeito da outra pessoa, como imputar nela o que é o sucesso e ainda direcioná-la para tanto? Me parece um equívoco que pode ter resultados não muito producentes, dependendo do caso.
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O que é sucesso para você? É ter o reconhecimento por aquilo que é? Ou ser reconhecido por aquilo que faz? Talvez seja algo relacionado com fama, com dinheiro ou sabe-se lá mais o que pode ser.
Tente analisar isso segundo as suas prerrogativas, de acordo com a tua historicidade.
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Provavelmente você já ouviu falar de alguém que lutou com todas as forças para conseguir algo e que passou a vivenciar crises existenciais tremendas tão logo conseguiu o que almejava.
Ou talvez você mesmo já tenha passado por algo semelhante, buscou algo e quando conseguiu o que queria percebeu que isso não era bem o que pensava, ou que não tinha o valor que antes considerava, ou que não teve os resultados esperados. Alguns noticiários estão lotados de pessoas que puseram tudo a perder da noite para o dia. 
Isso pode perfeitamente acontecer. E se não focarmos no percurso, no caminho, talvez seremos os próximos a cair nesta armadilha.
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Rubem Alves tem um conto chamado "Sucesso...", publicado no "Pimentas - para provocar um incêndio, não é preciso fogo" no qual ele relata algumas respostas que deu para uma enquete que queria descobrir o segredo do sucesso. Abaixo alguns recortes que considero relevantes para a reflexão.
"Cheguei onde cheguei porque tudo deu errado."
"Já vi muitas promessas em livros de autoajuda do tipo 'você está destinado ao sucesso'. Isso é mentira. O querer nada pode sem dom. Finalmente, é preciso trabalhar."
"Não gosto dessa palavra 'sucesso'. O que é 'sucesso'?"
"Não faça do sucesso o seu deus. Seja fiel a você mesmo. Se vier o tal de 'sucesso', melhor para você. Ou pior para você, nunca se sabe... Van Gogh foi um fracasso, nunca vendeu um quadro. Ele poderia ter se 'afinado' para o sucesso - pintando quadros bonitinhos..."
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Para mim, sucesso é, em poucas palavras, fazer com carinho e com amor aquilo que se faz. 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Outubro cinza

Quantos sentimentos cabem dentro de uma saudade!? Uma afirmação e uma pergunta num mesmo enunciado. 
Para cada pessoa isso se dá de uma maneira singular, sei. Mas saudade é aquilo que nos faz sorrir e lacrimejar ao mesmo tempo por algo que foi vivenciado ou por aquilo que gostaríamos de vivenciar?
Dói mais a saudade de algo que passou ou de algo que não aconteceu?
Onde a saudade se aloja, no pensamento, no coração, na alma, na pele?
Existe remédio para curar a saudade? E para provocar saudade, existe também?
Saudade da voz, do olhar, do toque, do cheiro. Do que está na memória, mas também o que está apenas na imaginação, uma espécie de "e se". Mas esses tantos "e se" não são passíveis de efetivação, porque no seu lugar está a saudade.
Saudade.
Saudade.
Saudade...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Cada encontro carrega consigo uma possível despedida

Saí sem rumo.
Numa rua escura dei de cara com a lua. O formato dela me lembrou teu sorriso. Estacionei e fiquei hipnotizado, contemplando aquela beleza singular.
Tal como as circunstâncias foram diminuindo a quantidade e a intensidade do teu sorriso, a lua foi se deixando esconder por detrás de edificações e montanhas. Como corri atrás de ti outrora, me pus a rodar para encontrar aquele risquinho no céu. Tive mais alguns momentos de êxtase, mas resolvi virar as costas antes da lua se esconder por completo.
Cada encontro carrega consigo uma possível despedida.
Ela volta. Você... já não sei...


domingo, 6 de outubro de 2013

Cuidado com o que você pensa

Eles voltam. 
Cedo ou tarde eles voltam. 
Geralmente é quando você está contigo mesmo. 
São poucas as chances de fugir. 
E mesmo que haja possibilidade de fuga, ela é momentânea.
Eles voltam.
Não pedem licença. 
Não dizem por que vieram.
Não tem prazo para bater em retirada.
Você não se sente preparado para recebê-los.
Mas eles voltam.
Para perturbar teu sono.
Para fazer companhia para tua insônia.
Para jogar para longe tuas certezas.
Ou para te dar ainda mais convicção de algo.
Eles voltam.
Talvez nem seja o caso de voltarem.
Talvez eles sempre estão contigo e só dão uma trégua ilusória.
E são como fogo queimando.
Ou como a brisa que toca o rosto.
Eles se alimentam de você.
E você pode também se alimentar deles.
Mas fique atento!
Cuidado com teus pensamentos.
Porque eles voltam.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Quando o silêncio diz mais que as palavras

Quando criança, ou mesmo quando adulto, provavelmente você queimou a mão em algum lugar. Ou então prensou o dedo numa porta, numa janela, num baú. Ou talvez tenha encarado aquela dor fazer uma tatuagem... Enquanto lia isso, se você passou por alguma coisa dessas, você pode ter sentido um desconforto, já que uma memória foi acessada.

O filósofo escocês David Hume afirmava que a sensação original de algo é mais forte e mais intensa do que a lembrança de tal sensação. Às vezes lembramos de algo claramente, como se estivéssemos de fato sentindo novamente aquilo que foi vivenciado no passado. De acordo com as considerações de Hume, isso se dá apenas de forma aproximada, sendo menos intensa que a própria vivência. Aplicando isso aos nossos exemplos, tal desconforto que citei acima é apenas uma aproximação da dor que sentimos ao termos queimado a mão no fogão, ou prensado o dedo na porta do carro, ou aturado o entra e sai das agulhas na pele.
No que passo a considerar a seguir, isso é deslocado para a condição de nos colocarmos no lugar do outro. Ou seja, podemos até fazer esse exercício, mas nunca sentiremos, de fato, aquilo que a pessoa sente - será sempre algo por aproximação, nunca de maneira exata, precisa. 

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Hipoteticamente, eis uma situação em que o teu melhor amigo te liga, emocionado, noticiando a morte do pai dele, ou da mãe, ou de uma pessoa que de certa forma era especial para ele. Na hora você vai meio que tentar negar a veracidade da notícia com algo do tipo "não acredito!", "sério?". Depois de desligar o telefone, um copo d´água para digerir o que lhe foi informado e provavelmente você começará a pensar na dor do teu amigo, dos familiares, dos conhecidos de quem acaba de partir. É nesse momento que não se mede esforços para tentar ajudar. 
O que geralmente costuma ser desconsiderado é a forma de ajuda que se está disponibilizando. Nessas circunstâncias difíceis um olhar, um aperto de mãos, um abraço, um carinho podem ser gestos nobres. Algumas palavras também podem ter alguma relevância. Porém, e muita atenção para este porém, gestos ou palavras jogadas ao vento podem surtir efeito reverso ou efeito algum em ocasiões assim. Isso porque a pessoa que você está disposta a ajudar está com a ferida aberta, com as funções do organismo debilitadas pelo choque, pelo cansaço de estar sem comer e sem dormir direito e pelos demais fatores e sintomas que uma perda pode trazer consigo.
O importante é se colocar no lugar do outro e ver as cosias com as prerrogativas dele. Não é uma tarefa fácil, pois nem todos conseguem se deslocar de seu próprio mundo e ir em direção ao mundo do outro. Fazer esse exercício ajuda a não cometermos equívocos quando, na verdade, nossa intenção era de ajudar, de ser útil, de confortar a pessoa que gostamos, como estamos tratando aqui.
De nada vai adiantar, por exemplo, tentar confortar seu amigo ateu com dizeres do tipo "ah, ela (a pessoa) vai estar melhor no lugar para onde foi". Ora, se seu amigo não confia na vida pós morte, essas palavras não vão ajudar em nada. Ou "foi melhor assim". Seu amigo pode pensar ou até mesmo lhe dizer "melhor pra quem?" ou "melhor pra você que não acabou de perder um irmão".
Entendo as manifestações de carinho em que cada um tenta, à sua maneira, minimizar a dor do outro. Geralmente isso costuma ser bom para quem enfrenta essa barra. Particularmente, e não é nada de insensibilidade - muito pelo contrário, prefiro um abraço e um silêncio. Voltando ao que introduziu esse texto, mesmo que nos desloquemos até o mundo do outro só conseguiremos sentir por aproximação aquilo que ele está sentindo.
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Concluo com o que Rubem Alves expôs num escrito seu chamado A Dor da Morte, presente no livro Pimentas - Para provocar um incêndio, não é preciso fogo.
"A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas tem poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosse tão importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou."
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