Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Espero que compreenda

Numa noite qualquer... 
"Seu saldo está abaixo de $ 10,00. Estamos completando a sua ligação."

Oi! Como estão as coisas?
Então, pensei em te ligar só pra ouvir tua voz. Eu sei, nos vimos ontem, ficamos juntos e tal. Ainda não estou com problemas graves de memória. Acontece que pra mim nunca é demais estar contigo, sabe? Gosto de te ter em meus braços e também gosto de estar no teu colo. Se isso encher o saco é fácil tu me falar "olha, tu não tá nem me deixando respirar". É certo que eu vou fazer uma carinha de cão que perdeu-se na mudança. Mas logo vou estar sorrindo novamente. E vou me esforçar pra te respeitar, claro. Mas confesso que não o efeito disso não é muito duradouro e logo já vou estar pensando em ti, em nós dois juntos, algo que fizemos ou algumas coisas que ainda queremos fazer. Juntos.

Eu ainda acredito no amor. Acredito no sentimento, na sintonia fina de corações, na aliança de almas, nisso que muitos dizem ser viagem de maionese. Mas só parece ser assim para eles porque a maioria sequer vivenciou algo parecido com amor alguma vez na vida. Talvez tenham tido um sexo bem pegado, mas desconhecem a sensibilidade desses sentimentos sublimes despertados pelo love. Ou talvez tenham quebrado a cara com algum relacionamento e universalizaram a vivência ao ponto de pensarem não existir possibilidade de relacionamentos saudáveis, maduros. Vai saber dos motivos de cada um, né?

Não liga pro fato de eu ser repetitivo, tá? Eu te amo. Não falo muito isso porque não quero transformar esse amor em "bom dia". Às vezes sinto essa necessidade de comunicar verbalmente o que demonstro através das leais atitudes. Fique à vontade pra me mandar à merda, se quiser. Nem todo mundo sabe lidar com pessoas com eu. Não nasci pronto e posso aprender a conviver melhor comigo mesmo para, então, melhorar essa nossa relação. 
Não quero te acorrentar. Quero ser tuas asas para que possas alçar voos à altura da tua bondade e dos teus anseios. Quero passar muito tempo ao lado desse teu coração bom, desse jeitinho que é só teu.
Agora preciso desligar porque meus créditos já estão indo pro espaço.
Já tô com saudade.
Fica bem.
Beijos meus.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mais 15 doses de Bukowski*


Bukowski publicou seu primeiro conto quando tinha 24 anos, em 1944. Aí deu uma pausa em suas produções por dez anos. Nesse intervalo de tempo viajou pela América, envolveu-se com várias mulheres e com a bebida. Esse ritmo culminou em uma hemorragia estomacal provocada pelo excesso de álcool. Essas experiências de autoconhecimento são a base da produção do escritor, que dedicou-se exclusivamente à tarefa da escrita a partir de seus 49 anos, após largar seu emprego nos correios.
Alguns críticos apontam para os gritantes aspectos do cotidiano abordados na poesia de Bukowski
Já havia postado aqui 15 doses de Bukowski e agora posto mais algumas das verdades desse homem, que, imagino, são também as verdades de tantas outras pessoas.




Garotas quietas e limpinhas de vestidos xadrez de algodão
"jamais apareça com uma puta, falo para meus
poucos amigos, eu ia me apaixonar por ela."

Borboletas
"acredito em fazer por merecer nosso caminho
mas também acredito em um presente
inesperado."

A gente precisa conversar
"É preciso ser homem para mostrar
seus sentimentos.
[...] vou arranjar para mim alguém que seja
real, alguém que converse comigo,
alguém que diga, 'olha, Paula, eu percebi
que estamos tendo alguns problemas e talvez
se nós falássemos sobre eles, poderíamos entender um ao outro melhor
e fazer as coisas funcionarem.'
[...] e o que você sabe sobre o amor?
é uma palavra suja para você! amor. você nem mesmo sabe o que é ´gostar'!
você não gosta do seu país, você não gosta de cinema, você
não gosta de dançar, você não gosta de dirigir na estrada, 
você não gosta de crianças, você não olha para as pessoas."

Corcunda
"eu fui amado por muitas mulheres,
e para uma vida corcunda,
isso é uma sorte.
[...]fui tratado melhor que deveria
ser -
não pela vida em geral
nem pelo mecanismo das coisas
mas pelas mulheres."

Eles, todos eles, sabem
"uma esposa rosnando no portão é mais
do que qualquer homem pode suportar."

Os substitutos
"agora nossos escritores 
discursam em universidades
de terno e gravata,
os aluninhos atentos e sóbrios,
as aluninhas de olhos vidrados
olhando
admiradas,
a grama tão verde, os livros tão chatos,
a vida tão morrendo de 
sede."

Assim que os poemas vão
"os melhores escritores disseram bem
pouco
e os piores,
demais."

Como ser um grande escritor
"você tem mais é que comer muitas mulheres
mulheres bonitas
e escrever uns poemas de amor decentes.
[...] não faça muito exercício.
durma até o meio-dia.
evite cartões de crédito
ou pagar qualquer coisa no 
dia.
[...] e se você tiver a capacidade de amar
primeiro ame a si mesmo
mas sempre tenha em mente a possibilidade de
derrota total
ainda que a razão dessa derrota
pareça certa ou errada - 
um gostinho de morte cedo não é necessariamente
uma coisa ruim.

Agora, se você estivesse lecionando escrita
criativa, ele perguntou, o que diria a eles?
"eu diria a eles para terem um caso de amor
infeliz, hemorroidas, dentes cariados
e para beberem vinho barato.
[...] jamais se considerem superiores e/
ou imparciais
e jamais tentem ser.
tenham outro caso de amo infeliz.
[...] jamais tentem fazer sucesso.
[...] aí depois de tudo isso
invertam o procedimento.
tenham um bom caso de amor.
e o que
vocês podem aprender 
é que ninguém sabe nada -
[...] e se vocês algum dia me pegarem 
lecionando escrita criativa
e lerem isso de volta para mim
eu darei um 10 direto
para você enfiarem naquele lugar."

Splash
"isto não é a porra 
de um poema.
isto é um cavalo adormecido.
uma borboleta em
seu cérebro.
isto é um circo
do diabo.
você não está lendo isto
numa página.
a página é que está lendo
você.
[...] estas palavras te arrastam 
para uma nova
loucura.
você foi abençoado,
você foi atirado 
num
lugar que cega
de tanta luz."

Os mais fortes dos estranhos
"você não vai vê-los direito
pois onde a multidão estiver
eles não estarão.
estes esquisitos, não
são muitos
mas deles 
vêm
os poucos
bons quadros
as poucas
boas sinfonias
os poucos
bons livros
e outras
obras.
e dos
melhores destes
estranhos
talvez 
nada"

Ressacas
"já tive provavelmente mais delas
do que qualquer outro ser vivo
e elas não me mataram
ainda
embora algumas manhãs parecessem
bem próximas
da morte.
[...] é preciso uma resistência inacreditável para
ser alguém que beba por várias
décadas.
[...] escrevo isto agora
sob os efeitos de uma das minhas
piores ressacas."

Assalto
"já fui um cara contente por estar só.
agora fui violado,
tudo tem seus limites.

A crise
"há uma solidão tão grande nesse mundo
que você pode vê-la no lento movimento dos
ponteiros do relógio.
pessoas tão cansadas
mutiladas
tanto por amar como por não amar.
[...] nosso sistema educacional diz
que todos podemos ser 
grandes vencedores.
ele não fala nada 
sobre os miseráveis
ou os suicidas.
ou do pavor de uma pessoa
sentindo dor num lugar
sozinha
intocada
incomunicável.
[...] as pessoas não são boas umas com as outras.
talvez se elas fossem 
nossas mortes não seriam tão tristes.
[...] com certeza deve haver um jeito que ainda não
pensamos."

Ao acender um charuto
"[...] e quando o amor veio a nós pela segunda vez
e mentiu para nós pela segunda vez
decidimos nunca mais amar novamente
isso era justo
justo com a gente
e justo com o amor mesmo."

* trechos extraídos do livro Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém, 2ª edição, 7 letras, 2012 


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Amor e sexo

Dias atrás, conversando com uma colega, disse a ela que fazer sexo já é bom, imagina então fazer amor. Ela disse "sim, eu sei porque para mim as duas coisas estão no mesmo ato". Então eu perguntei se ela, de fato, amou todos os caras com quem fez sexo, ou se ela só faz sexo na vida com quem ama. Espantada, ela respondeu negativamente e então seguimos nossa conversa.
***
Para algumas pessoas, sexo não tem nada a ver com amor. Pode ser uma enorme e variável gama de coisas outras que não impliquem em amor. Pode ser uma atração física, uma necessidade instintiva da espécie, algo que tenha importância para a pessoa, entre tantas outras possibilidades. 
O amor, por sua vez, é um estado afetivo da alma e é representado de forma única em cada pessoa. Ele também pode estar ligado a fatores diversos, de acordo com a estruturação da pessoa. Pode ser uma questão sensorial, ou ser algo ligado às abstrações, ou ser uma busca existencial da pessoa, pode, ainda, ser um comportamento que se encarregue de alguma função, enfim, o leque aqui é imensamente aberto.
***
Como identificar esses elementos em nossas próprias vidas? Basta prestarmos atenção à nossa historicidade. Ao visitarmos nossas vivências, perceberemos indicativos não somente dessas, mas de muitas questões que podem ser relevantes para o exercício de nossa existência. 
Essa identificação é feita por aproximação e nem sempre são tarefa fácil. Por isso, às vezes o auxílio de um profissional é imprescindível.