Tempo bom aquele em que as crianças ainda tinham tempo de ser crianças, de brincar, de se divertir sem terem que se preocupar com uma agenda programada pelos pais com mil e uma atividades. Bolinhas de gude, ou jogo de bolitas, brincar na areia, de esconde-esconde, de polícia e ladrão, fazer racha de bicicletas, escorregar na grama ou em barrancos sentado em um papelão, tomar banhos de piscina, de chuva, de cascata, de mangueira, de açude... enfim, muitas coisas que transcendem o mundo tecnológico-digital de hoje. Baaah! Até meio nostálgico. Maravilhas que tive oportunidade de vivenciar e que têm espaço reservado em minha memória e em meu coração.
Caçar de estilingue, ou bodoque, como chamávamos, era outra atividade que acabava em farra. Eu tive alguns colegas bons de mira. Era um passarinho descuidar, sentar num fio de luz ou numa árvore próxima e "toma!". Lá se ia o bichinho para o chão com uma pedrada. Tinha que ter boas noções de física, para saber a distância que a pedra lançada alcançaria, e de direção, para não atingir pessoas ou quebrar alguma coisa nas casas do arredores por onde passávamos. Duas coisas que eu não dominava muito bem. O que me restava, então, era catar as pedras mais redondas para que meus amigos atirassem com mais propriedade. Nisso eu era perito.
Pois um dia resolvi sair sozinho à caça. Fiquei com dor nos braços de tanto atirar. No caminho de volta para casa, acertei uma andorinha que fazia voos circulares com seu bando. Ela caiu no meio da rua, uma estrada de terra batida por onde eu passava. Que euforia. Eu acabava de matar o primeiro pássaro da minha vida. Mas logo a euforia se tornou algo um tanto incômodo. Eu não sabia se ficava ali, se corria, se pegava o bichinho ainda quente e com sangue escorrido no bico ou se o deixava lá caído, morto, sozinho. Desajeitado, peguei a andorinha e corri até onde minha mãe trabalhava. Cheguei chorando, dizendo para ela que havia matado um passarinho. E com um grau enorme de dificuldade, já que a andorinha não estava pousada em nada, mas em pleno voo.
Até hoje não sei se minhas lágrimas eram por ter conseguido matar aquele bichinho ou se por ter tirado a vida daquele indefeso e inocente animal. Foi o primeiro e o último pássaro que matei.
...
Na janela da sala onde trabalho tem um pardal que, vez em quando, vem me visitar. É lindo olhar aquela criaturinha com o colorido das árvores e do céu como pano de fundo.
Costumo dizer que ele vem trazer alegria, que as batidas que ele dá com o bico no vidro são para alertar que lá fora existe um mundo que não pode ser esquecido, um mundo mágico. Basta estarmos atentos para perceber.
Uma colega minha já ficou íntima dele. É passar alguns dias sem o pardalzinho aparecer e ela já lembra "Estranho, tem dias que o nosso amigo não vem nos visitar"
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Uma noite um casal de passarinhos invadiu a mesma sala onde trabalho. Fiquei feliz com a companhia, pois estava sozinho naquele turno. Larguei de lado o que eu estava fazendo e fiquei prestando atenção aos voos que fizerem. Sentaram no ventilador, olharam atentos para ver se achavam a saída, voaram para a copiadora, se separaram, um indo para cima de um arquivo de aço, o outro pousando no chão. Nossa! Como desconectei de toda a burocracia naqueles momentos.
Quando uma moça entrou na sala para requerer um serviço eu estava agachado, falando com os pássaros, apontando para saírem pela porta, dizendo que voar contra os vidros só iria macucá-los. Atendi a moça, que ficou encantada com a calma que o casalzinho de asas apresentava dentro da sala. Estavam à vontade.
Saí, então, para pegar um pouco de água e quando retornei eles já não estava mais na sala. Saíram de mansinho. Acho que não gostavam muito de despedidas.
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Escrevi essas linhas ao som de jazz. A inspiração me veio quando baixei um pouco o volume da música para que o canto dos pássaros ficasse no mesmo tom do piano e do saxofone. Que sinfonia!
Um pouco de tudo... e também de nada. Aqui expresso minhas representações acerca do que penso, sinto, faço, vivo...
Originalidade?
Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
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