Certa feita, no final de um show, um flanelinha se aproximou de mim antes mesmo de eu fazer menção de entrar no meu carro. Eu não tinha grana. No carro tinha algumas moedas, alguns centavos que não somavam dois reais. Depois que abri o carro, peguei as moedas e antes de entregá-las para aquela pessoa que disse o ter vigiado estendi a mão para ela. Falei algo que nem lembro. Tipo, "obrigado, tenha uma boa noite" ou "desculpa, mas é o que tenho pra te pagar", ou algo do gênero.
Antes mesmo de eu sair de onde o carro estava estacionado, um amigo que viu a cena me ligou perguntando se eu não tinha medo de ser assaltado, sequestrado e toda uma gama de possibilidades - todas péssimas, diga-se de passagem. Eu ri e desliguei o telefone.
Nunca vi uma pessoa tão feliz na vida. Aquele tiozinho apertou minha mão, deu um sorriso e me agradeceu. Me disse que o aperto de mãos valia mais que qualquer grana que ele ganhasse naquela noite.
Outro dia conversei demoradamente com uma pessoa radical, dogmática ao extremo, rígida, dona da verdade (tanto que não é fácil vê-la conversando com alguém). Por conhecer como ela funciona, me debrucei em interferir minimamente e ouvir suas teses mais mirabolantes, suas verdades absolutas, etc e tal. Fiquei zonzo. Foi um turbilhão de informações. Vez em quando eu dava uma opinião, falava um pouco sobre o que eu pensava a respeito, já pensando em encerrar o assunto e, consequentemente, a conversa que já se estendia por um longo tempo.
Mal tinha me despedido de tal pessoa, um colega me questionou como eu podia ter paciência para ficar ouvindo asneiras daquela pessoa.
Eu queria que alguém visse a alegria gritante do tagarela por eu ter dedicado um tempinho para conversar com ele. A expressão do rosto dele foi fantástica.
Eu converso com guardas de trânsito, com porteiros de edifício, com pessoas no elevador, com garçons e atendentes de restaurantes e cafés, cumprimento pessoas que nunca vi na vida, que nem sei quem são. Quando faço isso, percebo que tais pessoas se sentem vistas, valorizadas por gestos tão pequenos. É incrível como isso as deixa num pé de igualdade conosco. É um contato de pessoa para pessoa. Caem as máscaras de idade, profissão, estado civil, opção sexual, religiosa, política... Claro que algumas, sabe-se lá por que motivos, preferem ignorar minhas tentativas. Para estes casos, paciência e respeito à forma delas se posicionarem no mundo.
Eu gosto disso. Muitas experiências bacanas nascem daí. O diálogo, a troca, a interseção despertam meu interesse. -muito embora monólogos sejam interessantes, às vezes.
Finalizo com o que escreveu Renato Janine Ribeiro em sua coluna na Revista Filosofia - Ciência & Vida, Nº 72, de julho deste ano:
"Eu não preciso dialogar só com quem concorda comigo, Aliás, a maturidade existe justamente quando consigo conversar, com respeito, com quem é diferente de mim. Aprende-se muito desse jeito."
E.A.C.,
ResponderExcluirSeu texto emocionou-me. Recordou-me três passagens em minha vida que me marcaram que até ao presente não consegui esquecer e, que semelhantemente retratei no meu blogue. Se sentir curiosidade oferto-lhe uma das três passagens.
http://balletdepalavras.blogspot.pt/2010/04/o-seu-nome.html
Sabe?! Existem imensas pessoas ávidas de palavras, atenção e, carinho. E, se cada um de nós as lisonjeasse esses sentimentos minimizar-se-ia um pedacinho.
Foi um prazer.
Ana
Obrigado pela visita e pelas palavras, Ana.
ExcluirVisitei teu cantinho e te acompanho de perto agora.
=)