Bicho de Sete Cabeças é um
longa-metragem brasileiro, lançado em 2001, inspirado no livro Canto dos
Malditos, de Austregésilo Carrano Bueno. O livro é baseado na história do
autor, hoje ativista da causa antimanicomial, que em 1974, com 17 anos,
peregrinou por hospitais psiquiátricos. O filme tenta ser um retrato fidedigno
da dura realidade que o mesmo vivenciou.
Neto
é um adolescente de classe média que vive em crise com sua família. Seu pai,
autoritário, não consegue estabelecer um diálogo com o filho. Sua mãe, uma
espécie de mediadora dos conflitos familiares, até se esforça para que haja um
entendimento entre eles. Em vão.
Os fatores psicossociais
(os conflitos com os pais, o convívio com o grupo de amigos) influenciam Neto a
fumar maconha e ter um comportamento rebelde. Porém, considerando a fase da
adolescência, nada que comprometesse sua sanidade, pois, apesar da grande
vulnerabilidade ao vício, ele não era dependente químico. Ainda assim, seu pai
o internara num hospital psiquiátrico após ter encontrado um cigarro de maconha
na jaqueta do menino.
No hospital psiquiátrico
os internos eram submetidos a um rigoroso tratamento, que na realidade não
visava a reabilitação ou a cura. O intuito era manter uma quantidade ‘x’ de
pessoas em internação para continuar recebendo as verbas do hospital. As
pessoas internadas recebiam fortes medicamentos que abriam o apetite para que
elas comessem e apresentassem um bom aspecto quando do recebimento de visitas.
Quando Neto obtém alta do
hospital ele até tenta levar uma vida social. Ele consegue um emprego e se
esforça para superar os traumas que a internação causara em sua estrutura.
Porém, em determinados situações ele recai, sofre vômitos e rememora episódios
que vivenciou e que certamente levará para a vida toda.
Após ele beber em uma
festa o jovem se altera, não consegue realizar um ato sexual com uma garota.
Neto acaba se revoltando e promove um quebra-quebra no local. Pelo histórico de
ser uma pessoa com problemas de internação, novamente volta ao hospital psiquiátrico.
O trama acaba com Neto
tentando suicídio numa cela isolada. Ao final do filme, pai e filho
encontram-se sentados um ao lado do outro.
Muitos aspectos podem ser
destacados e servir como pontos de reflexão. A situação que Neto se encontrava
ao início do filme, por exemplo, traduz muito bem o que ocorre na adolescência,
ou seja, uma fase de experimentação de novas vivências, identificação com o
grupo, além de outros que poderíamos destacar. A postura do pai, de certa
forma, é o que desencadeou uma sucessão de problemáticas em Neto.
Sua internação levou em
conta apenas o depoimento do pai. Isso remete aos casos em que o diagnóstico é
precipitado ou forjado. Em nossa sociedade, o paciente é realmente ouvido e o
diagnóstico dá conta do que ele está vivenciando no momento?
Enfim, em se tratando de
saúde mental e patologias, me parece que o filme consegue alcançar uma profundidade sobre o
assunto. Neto até sofria de um distúrbio de personalidade, mas isso não foi
trabalhado de forma que seria mais producente ao caso. A condução do caso pela
família, que o rejeitou, poderia ter resolvido o problema se conduzido de
maneira diferente. Ao contrário, ele foi rotulado e passou a viver um caos.
Pressionado a obedecer/reproduzir um regime que visava, por assim dizer, a
produção da loucura, era quase impossível Neto não desencadear problemas de
cunho psicológico.
O filme foi postado na íntegra no YouTube em efeito espelho. Ainda assim dá pra assistir legal.
Boas reflexões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário