De madrugada, abracei forte o travesseiro.
Acordei no meio da manhã com o barulho da chuva no telhado. Minha mãe me disse que o tempo feio já havia passado. Fiquei na cama por mais algum tempo, ainda meio sonolento, pensando nos sonhos que me visitaram durante a noite.
Abri a janela. Um vento gelado deu um tapa no meu rosto. Por instantes fiquei olhando a chuva, contemplando as cores cinzas do céu contrastando com os tons coloridos de algumas flores. O cheiro disso tudo também é algo mágico, divino.
Pensei em tomar um banho de chuva. Desisti. Pensei em um banho quente e demorado. Também abortei a ideia.
Fui lavar meu rosto. Me olhei no espelho e tive dó dele. Que pecado ele fez para ter que me refletir todo dia? Cara amassada, olheiras bem delineadas, cabelos desarrumados ao extremo e mais alguns detalhes horrorosos.
Fiz xixi sentado. Não estava com pressa. Não estava sendo observado. Não precisava cumprir horário. Não tinha sequer a companhia do meu amigo fiel, meu cachorro. Sim, às vezes eu faço xixi sentado. E como tinha acabado de levantar, fiz sem roupa alguma. "Visão do inferno", você pode estar pensando. Pois que seja visão do que quer que seja.
Escovei meus dentes.
Escolhi aquela roupa velha, batida, cheia de furos e marcas do tempo, mas mais confortável que qualquer roupa de grife. Gosto desse estilo mulambento, largado, despretensioso.
Se perfeição fosse algo que existisse fora dos dicionários, diria que hoje é um dia quase perfeito. Ideal para se resguardar. Fazer uma viagem introspectiva. Ajustar o que ultimamente anda meio desregrado. Por alguns pingos nos is. Conversar comigo mesmo.
Hoje é um dia para lavar a alma. Talvez até mesmo tenha que exorcizar alguns demônios. Algumas coisas vão ser deixadas para trás. Outras vão ser incorporadas. Acho que atualização é uma palavra para descrever tudo isso.
Depois de beliscar uma torta fria com refrigerante, refugiei-me para o meu quarto. Alguns livros precisam ser lidos. Maldita mania de começar a ler várias coisas ao mesmo tempo. O acervo da minha mini biblioteca está crescendo e o que eu mais tenho feito é escrever a data de aquisição na folha inicial das obras. As leituras estão com o freio de mão puxado à meia altura.
Meu mundo hoje vai ser entre essas quatro paredes.
Espero que o dia passe rapidinho. Quando a madrugada chegar e eu for me deitar, quero repetir os mesmos passos: acariciar meu cachorro e abraçar o travesseiro. E vou ficar na torcida para que você venha novamente me fazer companhia em sonhos.
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