"Chama-se espírito livre àquele que pensa de forma diferente do que se espera dele, em virtude de sua origem, do seu meio, da sua posição e do seu ofício, ou em virtude dos pontos de vista dominantes da época. Ele é a exceção, os espíritos subordinados são a regra. [...] Ele terá ao seu lado a verdade, ou, pelo menos, o espírito da busca da verdade: ele exige razões, os outros, crenças."
2- Sobre a origem da crença (Origem da crença):
"O espírito subordinado não toma a sua atitude por razões, mas por hábito; é, por exemplo, cristão não porque tivesse examinado as diferentes religiões e escolhido entre elas, é inglês não porque se tivesse decidido pela Inglaterra, mas porque encontrou o cristianismo e a nação inglesa e os adotou sem razões, como alguém que nasceu num país vinícola se torna bebedor de vinho. [...] Obrigue-se, por exemplo, um espírito subordinado a apresentar as suas razões contra a bigamia, e verificar-se-á, então, se o seu zelo sagrado pela monogamia assenta-se em razões ou no hábito. É a habituação a princípios espirituais sem razões que se chama crença."
3- Sobre os homens ativos e escravidão (Principal defeito dos homens ativos):
"Aos ativos falta, habitualmente, a atividade superior: refiro-me à individual. Eles são ativos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas [...] Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda atualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito."
*Extraídas de
Humano, Demasiado Humano