Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

sábado, 30 de março de 2013

*walk on

Duas pessoas vivenciam uma história juntas por um tempo. Um mês ou três séculos, sei lá. Curtem adoidado cada momento, são cúmplices uma para com a outra, se respeitam, combinam em muitas coisas e nas que discordam conseguem dialogar sem agressões verbais ou físicas. Enfim, se perfeição existisse elas seriam algo muito próximo dela. Mas eis que, por uma gama de fatores, o relacionamento finda. Aí vem as poções mágicas que tratam da existência como se a vida tivesse uma bula explicando a dosagem certa, o intervalo entre as aplicações ou ingestões, o período de repouso, o tempo para a recuperação plena...
Quem nunca ouviu algo parecido como as duas perguntas a seguir quando o assunto é o rompimento de um relacionamento? Minha opinião a respeito delas vem logo na sequência.

- Ah, se se dessem tão bem assim, se se amassem de verdade o relacionamento não acabaria, não é? 
Ué! Por que não? Volta e meia se vê gente por aí confessando que rompeu um relacionamento e que ainda ama o ou a ex. E que o ou a ex também continua o ou a amando. Se amor fosse tudo num relacionamento afetivo, certamente muitas relações ainda estariam de pé, firmes e fortes. Mas não, além do amor várias outras coisas estão envolvidas.

- Por que não deu certo?
E quem disse que não deu certo? Não deu certo para quem? Aquele mês ou aqueles três séculos foi o tempo que mais vai ficar marcado para a pessoa justamente porque deu certo, porque uma história foi criada nesse intervalo. O rompimento até pode ser motivo para algumas pessoas odiarem o ou a ex, quererem distância e tudo mais; mas muitas pessoas preferem ficar com as experiências do que passou na bagagem, aprender com isso, usar isso positivamente para as próximas etapas, logo ali na frente.

Oras! Nossa época continua acreditando que o amor romântico é tudo. De fato, para algumas pessoas ele é a base de tudo. Mas até as maiores edificações do mundo ruíram. Por que cargas d´água um amor seria imune a tudo? Tem nisso um respingo da nossa criação judaico cristã, aquela história de apesar de tudo e até a morte nos separe. Tem também um dedo da literatura infantil e dos romances holiwoodianos, nos quais o final é feliz, o famoso e viveram felizes para sempre.
Nossa existência não é matemática assim. Acho que nem seria interessante se fosse. O bacana é que algumas coisas podem e devem ser deixadas para trás, que outras nos acompanharão eternamente, que o mundo dará outras voltas.

Onde eu quis chegar com isso? Que viver transcende os jargões prontos. Que viver é uma dádiva que deve ser apreciada em todos os momentos. Que, apesar de tudo, é possível olhar para frente e continuar na direção que estamos dispostos a trilhar.

*(siga em frente)
Canção do U2 que não consegui linkar aqui. 

Abraço de paz!  

domingo, 24 de março de 2013

a arte não necessariamente imita a vida (e vice-versa)

Final de semana. Pós-almoço, que na real foi também um lanche da tarde. Não estava com sono, pois tinha acordado às 13 horas. Dormir tarde não é mais motivo para me deixar cansado, já que quase todas as noites tenho a companhia da insônia. Às vezes isso enche o saco, às vezes é bem bacana e producente. As madrugadas tem lá seus encantos.
Quis manter o silêncio para minha mãe repousar. Meu quarto estava escuro em plena luz do dia. Acendi a luz. Dei de mãos no Bukowski que estou lendo e me deitei, sem tirar os tênis, com os pés para fora da cama desarrumada. Li algumas páginas. Fiquei viajando em algo que me despertou atenção. Meus pensamentos divagaram. Repousei o livro aberto em meu rosto. Isso evitava o contato direto com a luz que cegava meus olhos. Fui marca páginas humano pelo instante que fiquei sentindo o cheiro do livro.
Momento sublime! Não vou dizer que teve a intensidade de um orgasmo. Não chegou a tanto, ao menos em termos de reações físicas. Mas foi algo quase que indescritível. Meio que uma espécie de sexo oral. Ela se oferecendo de pernas abertas, reconfortando sua maior zona erógena bem à disposição da minha boca. Senti o cheiro de pele úmida, embora o cheiro real fosse de material impresso industrializado. Minha salivação se alterou, fiquei com água na boca. Me policiei para que os movimentos da minha língua ficassem apenas entre meus dentes cerrados ou que alcançassem, no máximo, meus lábios, que vez ou outra eu mordi. Estava conectado com a ideia. Sexo é o que estava na minha mente. Talvez tenho sido remetido a isso justamente pela passagem que me fez interromper a leitura e me pôs a refletir. 
De repente meu telefone tocou. O livro mudou de posição. O clima se desfez. A realidade me trouxe de volta. E então li mais algumas páginas antes do banho. 
Se no chuveiro eu me masturbei ou não é tão fantasia ou realidade quanto o que expus até aqui.

sexta-feira, 22 de março de 2013

da arte de viver reclamando


Tem pessoas que são PHD em viver reclamando. E não se formaram em qualquer instituiçãozinha, não. Deve ter sido em Harvard, nos EUA, ou em Oxford, na Inglaterra. 
Tudo bem. Quem não tem problemas, não é mesmo? Mas é muita tempestade em copo d´água, minha gente! Pelamor!

O mundo gira. Só por que ele girou até agora não quer dizer que ele nunca vai ficar estático, sem movimento algum. O mundo gira.
As estações se sucedem. Pelos efeitos causados pelo homem na natureza, não necessariamente as condições climáticas respeitam as peculiaridades de primavera, verão, outono e inverno. As estações se sucedem.
O sol brilha. Ele dá a cara após semanas inteiras encoberto pelas nuvens cinza. Improvável que se esconda e não mais nos visite. O sol brilha.   
A lua reluz. Nova, crescente, cheia e minguante. Não é seguro que sua luz cesse e não mais se ofereça para nossa contemplação. A lua reluz.

Poucas são as coisas estáticas, não passíveis de mudança, de alternância, de modificação. E de nada adianta reclamar do calor, do frio, da chuva, do sol, do barro, da poeira, do vento e todos aqueles mi-mi-mis que frequentemente ganham espaço nas redes sociais e nas rodas de conversas. Essas coisas são muito mais pertencentes ao universo que nós mesmos. Estão aqui desde muito antes de nós e permanecerão até muito depois.


Nós somos animais. Não podemos nos esquecer da nossa capacidade de adaptação. A não ser que queiramos continuar fazendo birra/drama por aí porque esquentou, porque esfriou, porque choveu, porque anoiteceu, porque nascemos...

quarta-feira, 20 de março de 2013

crônicas de amor & sexo

Fabrício Carpinejar é uma pessoa um tanto exótica. Sua sua "guíngua pgesa", suas vestes, seus anéis, suas unhas pintadas, seu cortes de cabelo sempre com uma palavra na nuca e, claro, seu enorme potencial de jogar com as palavras o fizeram conhecido pelo país todo. Professor universitário, poeta e jornalista são os rótulos sociais e de formação. Mas muitos outros adjetivos cabem para descrever esse ser irreverente.

Em Ai meu Deus, Ai meu Jesus - Crônicas de Amor e Sexo Carpinejar esbanja conhecimento de causa (e de causos). Muito do livro é ironia, sarcasmo, espontaneidade. O que não dá para negar é que suas histórias pessoais, suas vivências deram origem a grande parte das crônicas. Cotidiano, intrigas, atrações, falhas, aprendizados. 
Quem dera a mistura amor e sexo pudesse estar presente na vida das pessoas!

Compartilho recortes de algumas crônicas.

A carne é forte
"Todos os meus pecados eram um único: bater punheta. Mudava apenas o horário.
Não, não dizia bater punheta. Eu bati punheta somente quando adulto.
Eu dizia: 'eu me toquei, padre'. [...]
Torturado por não ir ao céu, confidenciava por quem me tocava. Acho que não precisava, mas pecado bom é com detalhe.
O padre conheceu minhas fantasias eróticas melhor do que qualquer mulher."

Maldição
"O homem peca por estar exposto. [...] Tenta-se recordar da avó, da tia, da morte, da mendiga mais descabelada, despistar as imagens, mas nada o demove da inflação. O equivalente seria se, excitados, os seios crescessem a ponto de furar o sutiã ou inchar a blusa.
É comum o homem despir na sua imaginação a mulher com quem conversa. [...]
Não se respeita um homem de pau duro. É - de cara - um tarado. [...]
O pau é incontrolável, não tem como suborná-lo ou fazer um acordo - goza de vida própria. [...] Não respeita a mulher de seu melhor amigo ou filha de sua melhor amiga. Endurece e pronto, teimoso que só vendo. O jeito é dobrar as pernas, andar como um pato, botar a pasta na frente e rezar, rezar muito para que ninguém note a diferença."

Falso brilhante
"Temos uma noção de que amor mesmo, de verdade, é exibicionista. [...]
O amor espalhafatoso recebe a fama, mas o amor contido é o mais profundo. [...]
O amor mais contundente é o que não precisa ser visto para existir. E continuará sendo feito apesar de não ser reparado. [...]
Buscá-la no trabalho é o equivalente a oferecer um par de brilhantes. Esperá-la com a comida pronta é o equivalente a acolhê-la com um buquê de rosas vermelhas.
São demonstrações sutis, que não dá pra contar para os outros, mas que contam muito na hora de acordar para enfrentar a vida."

terça-feira, 19 de março de 2013

medo de mulher?!


Mês passado li a coluna ("quem tem medo de mulher?") da queridíssima Carol Teixeira na VIP. Quem quer saber do que se trata, e vai ser interessante para entender o que escrevo abaixo, clica aqui. Até mandei algumas palavras para a Carolzinha (só para os íntimos) e felizmente tive um retorno. =) Bem, ao que interessa...

Depois de ter lido, fiquei me perguntando por que diabos os homens não adoram as mulheres em questão. Me vieram várias coisas, viajei bonito e tals. Mas tem fatores que considero relevantes nesse processo. O primeiro é o machismo mascarado que ainda assola grande parte das culturas. Oras, é óbvio que as mulheres conseguiram seu lugar ao sol; nada mais legítimo e melhor que isso! A submissão e a passividade feminina têm mesmo que ficar para trás, a não ser que seja uma opção dela, a mulher, em viver assim. Aí respeita-se e ponto final. Mas, convenhamos, é bem mais producente aquele posicionamento à esse, não?! Afinal, brigar por liberdade e adquirindo-a preferir manter-se servil não me parece ser o melhor caminho, embora algumas criaturas assim o prefiram.
O segundo ponto que maquinei aqui com os meus botões é que em nossa sociedade o amor é vivenciado como propriedade, como posse. Muitas pessoas pensam que estar em um relacionamento com alguém lhes autoriza a serem donas das outras. Tem coisa mais arcaica que isso? Vai ver tem homem por aí que ambiciona sair pelo Gasômetro ou pela Avenida Paulista com sua companheira arrastando-a pelos cabelos. Quando tivermos ciência de que vivenciar o amor como afinidade é uma mudança radical que engrandece não só quem está no relacionamento, mas todos que estão às voltas dele, talvez as coisas tomem outros rumos. E tem também a questão que as pessoas podem se conhecer, paquerar, fazer sexo, trocar emoções sem que isso implique necessariamente em namoro, casamento, união estável ou seja lá o que for. Mas nem entremos nesse mérito.
Pensando por essa minha lógica (ou minhas lógicas - se é que tem alguma lógica nisso), seria o máximo poder manter um relacionamento com uma “puta mulher”, no sentido de inteligente, independente, poderosa, influente, sagaz e tudo mais que pode fazer uma mulher “fodástica”. 
“Temer mulheres assim? Que nada! Isso é dos tempos de dois mil e alguma coisa, quando os homens ainda ficavam meio receosos de flertar ou se relacionar com as super-mulheres, como aquela Carol Teixeira advertiu numa coluna de revista”, talvez digam algumas pessoas que vivenciarão as coisas de outras formas.

segunda-feira, 4 de março de 2013

daquilo que não passou, o que fica?

A saudade tem várias facetas. Às vezes várias faces. 
Minha maior saudade é daquilo que não vivenciei, por mais paradoxal que isso soe. 
Aquilo que fica guardado na memória pode ser resgatado, digamos que revivido com uma intensidade menor do que a vivência original.  
Mas e aquilo que não foi registrado, que não foi vivido? E que não tem possibilidade alguma de se efetivar? Sim, estou pensando em quem partiu sem um adeus, sem despedida, sem um tchauzinho. 
A morte é mesmo um mistério. Assim como a vida também o é.
As lágrimas vêm para purificar a alma, para abrir espaço para a leveza, para fazer vir a tona aquelas boas lembranças que estão nos detalhes mínimos, em algumas circunstâncias, nas cores, nos cheiros, nas semelhanças ou nos contrastes, enfim em quase tudo tem um pouco daquilo que ficou para trás. Essa sensação é indescritível. É um misto de valeu a pena com gostinho de quero mais.
Mas a interrupção sem aviso prévio deixou irrealizável o que estava por vir. E, novamente, a saudade não é do que ficou para trás, mas daquilo que não aconteceu.
A saudade também tem nome. E endereço fixo: coração e alma de quem a sente.

E a vida vai passando. O tempo não poupa nada, nem ninguém.
Tem gente guardando emoções para sabe-se lá quando sem perceber que esse tempo pode não chegar. 
Fazer agora o que poderia ser feito depois não é burrice. Num piscar de olhos tudo pode se transformar em saudade. E aí, meus caros... ah aí a saudade do que não aconteceu pode vir e a gente só vai poder ficar com a clássica pergunta "como teria sido se?".


*Como diz um trecho da canção, "algo em tudo que passa, fica". Mas e daquilo que não passou, o que fica?

Seguimos...