Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Cabe uma vida entre a perda e o agora.

O foda de perder uma pessoa não é a saudade que dela fica, mas a saudade daquilo que não foi vivido. De certa forma isso é uma expectativa, uma ansiedade, uma frustração. Comigo é assim.
Do tempo da ausência até agora, quantas coisas bacanas poderiam ter acontecido? Quantas coisas para experimentar juntos? Quantos sorrisos, quantas lágrimas? Quantos pôr do sol, quantas luas cheias? E os banhos de chuva, as conversas fiadas, as experiências de vida para compartilhar? Bah, que merda hein!? 
Cabe uma vida entre a perda e o agora.  
Essa saudade daquilo que não foi vivido às vezes me acerta em cheio. Menos mau que ficaram boas lembranças, momentos inesquecíveis, registros que nada nem ninguém é capaz de apagar da alma e do coração. E isso é o que me dá forças para seguir.

"Será que a brisa vai me levar até você?
Será que vai conseguir me ouvir?
Mas se pudesse estar aqui sentindo o oceano e do meu lado visse o sol cair, iria me deixar feliz. 
Queria que estivesse aqui."



Você faz falta, campeão.
Saudade enorme.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Não use a preguiça e a covardia para justificar seus fracassos

Desde que vi os primeiros conteúdos do Professor Clóvis de Barros Filho na internet, fiquei fã dele. Tanto que volta e meia eu tiro um tempo para acessar alguma coisa dele, palestras, aulas, textos.
A seguir tem a maior parte transcrita de um trecho de uma aula sobre Desejo x Vontade em Kant que me dei o trabalho de transcrever. Para mim é um espetáculo isso que ele está falando. 
Como é tempo de muita gente retomar a rotina de aulas, é bom dar uma refletida sobre o papel docente e, não menos interessante e/ou importante, do aluno. E das últimas palavras do professor nasceu o título dessa postagem.
Eis então as magníficas considerações que merecem ser grifadas.

“Porque isso tudo é de uma potência de argumentação fudida. Por que o que que Kant tá dizendo? Kant tá dizendo que você pode agir mal e produzi felicidade e agir bem e produzir tristeza. Coisa que no utilitarismo é absurdo. Então, claro, nesse sentido você se lembrará dos exemplos. Você vai numa escola particular, quando é que o professor dá uma boa aula? Quando os alunos fazem teste de satisfação: ótimo, bom regular ou péssimo e aprovam a aula. Se for um estábulo, a aula será uma aula para equinos, não tem importância. Porque o que importa é a felicidade de todo mundo. O que Kant tá dizendo ‘tá vendo, não pode tá certo’. Porque se a boa conduta é aquela que enseja a felicidade sempre, veja a primeira consequência disso, fica inviabilizado o crescimento do homem, porque o processo educativo não é um processo de busca de felicidade na hora, ali. A educação pressupõe dor, pressupõe desconforto, pressupõe correção de rota, pressupõe advertência, pressupõe ‘tá errado’. O professor que é julgado pela satisfação do playboy, ele tá fudido; ele tem que fazer o playboy sorrir o tempo inteiro e isso é tudo, menos educar. Educar é pegar e dizer ‘você é um bosta, então você vai sofrer agora pra você aprender a ser gente’. E esse professor não continua no emprego, ele será demitido porque ele entristeceu o playboy, ele mandou o playboy ler. ‘Imagine eu ler, velho, ler livro. Esse cara tá zuado, cara. Imagina: ler livro no papel. Com quem esse cara pensa que ele tá falando?’.
...
Três páginas. Você seleciona, imprime e lê. ‘Professor, mas três páginas leva um minuto e meio’. Não. Não leva, não. Porque você pega o primeiro parágrafo, lê. Ele vai te produzir um certo desconforto (isso com a aula, com a aula). Aí você pega o primeiro parágrafo e lê de novo. ‘Você tá me chamando de burro?’. Não. Ou se eu tô chamando de burro, chame-me também, porque é também assim que eu leio. Lê a terceira vez o primeiro parágrafo. Aí vai pro segundo parágrafo. Uma vez, duas vezes, três vezes. Então gasta uma hora em três páginas. ‘Professor, desse jeito eu nunca vou saber qual é o final da história’. Então, não tem o final da história. O resto do livro é tão desinteressante quanto essas três páginas. Você não tá perdendo nada, fique só nas três primeiras páginas. Porque se você não fizer a experiência da leitura de um texto difícil agora, acredite, você terá perdido a chance. E você dirá ‘mas eu não me interesso por questões filosóficas’. Não, é só uma questão de brio. Você tem brio? Sabe o que é brio? Eu dizer ‘malandro, você é tosquinho, você não entende’. Nossa! Eu volto pra casa, é a primeira coisa que eu faço, nem xixi, velho. Eu vou lá, vem o texto, eu vou ler e tal. Por que como pode um cara escrever uma coisa que eu não entenda? Não tem como. Eu vou ler aquela merda até entender. Isso é brio. Senão o nego caga na sua cabeça e você não reage. Vai lá pegar o Kotler, tem o solzinho, né?! Pra você é o máximo que dá, velho. Tem o teto, pra você... dali pra cima você não passa. Tá dando razão pros gregos, nasceu pra coió, não é. Não pode. Isso te fere a alma, cara. ‘Como assim eu não vou entender?’. Eu comi na infância, comi. Me deram leite materno, me deram leite ninho, me deram não sei o que, cérebro tem o tamanho de um cérebro normal, neurônio tem neurônio à vontade. Então, porra, se o cara escreveu, velho! Você só vai entender o que ele escreveu. Imagina que ele teve que tirar do zero aquela merda toda.[...]
Você vai dizer ‘professor, mas a pedagogia’. A pedagogia que se foda! Você precisa sentar a bunda na cadeira e melhorar a tua capacidade de pensamento, porque depois você aplica isso aonde for. Porque se você ficar só no Show do Ari Toledo, coisas fáceis, solzinho, públicos ‘e aqui tá empresa e nhe, nhe, nhe’ pelo amor de deus, velho! Isso aí na 5ª série primária já daria pra entender essa merda. Pega alguma coisa de gente. Tenha culhão . Mesmo que não tenha nada a ver com você, tenha sangue, reaja!  ‘Professor, eu não faço questão nenhuma de entender’. Ah, tudo bem. Fiz o que eu pude. É isso mesmo. O que eu eu tô te dizendo? O que todo mundo diz? ‘Nem pega o texto, cara. Isso aí é pra dois ou três’. Porra, se o cara me diz ‘isso aí é pra dois ou três’, então é pra mim. Cadê a porra do negócio? [...]
E você vai começar a se sentir mal, cara. Porque tá lendo 30 vezes a porra da frase e você não entendeu o que o cara quis dizer.  Você tem que se sentir incomodado, porque a tua inteligência é o que você tem de melhor. Se ela não dá conta de uma merda de uma frase, então você é um ser defecante. [...]

É esse o brio que eu tô falando. É esse brio. É esse brio que levará você a procurar progredir intelectualmente, porque estudar, aperfeiçoar a capacidade intelectiva, pensar com competência é tão esforçado quanto ter músculos, correr, nadar travessia. Exige empenho, exige dedicação, exige bunda na cadeira, exige etc e tal. Então essa é a ideia. O que eu fiz aqui? Dei as chaves do castelo, fiz a cama, facilitei. Agora pega o texto, deita e entende. Por que? Porque não tem por que não entender. Entrou aqui, tem coisa, tem professor, tem comida, tem tudo. O resto é só preguiça e covardia." 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

das minhas construções compartilhadas

Estava falando com uma amiga e ela disse que estava com uma inveja boa das minhas férias, pois tinha visto algumas publicações minhas no Facebook ostentando uma vida de sombra e água fresca. Eu então expliquei que tinha sido mais de sombra e cervejas geladas que de sombra e água fresca e que isso me deixou mais redondinho. Ela me disse "se você é feliz redondinho...". 
De lado as considerações sobre o padrão de beleza que preza por um corpo esbelto, moldado em academia e/ou remodulado em mesas de cirurgias, comentei que estou preocupado com minha saúde e que darei um tempo nos etílicos.
E voltando à questão da felicidade, mencionei que, para mim, felicidade são pequenos momentos preenchidos com coisas que tem a ver com o que penso ser interessante, relevante para minha existência. Pensando assim, não sou feliz, mas estou feliz. Sei que logo ali na frente pode acontecer algo que me deixe para baixo, acontecer alguma coisa ruim, algum imprevisto trágico ou sei lá o que. Mas como a felicidade não dura para sempre, nem a infelicidade é eterna. A vida tem fim e muitas coisas do percurso, mesmo que não perceptíveis num primeiro momento, podem ser elementos que nos direcionam para a evolução. Então, administrar bem esses movimentos é sabedoria, inteligência, caminho de crescimento. 
Como cantou o marginal alado em Dias de luta, dias de glória, "na minha vida é que tudo acontece, mas quanto mais a gente rala, mais a gente cresce." E mais adiante "a vida me ensinou a nunca desistir, nem ganhar, nem perder, mas procurar evoluir. Podem me tirar tudo que tenho, só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz por quem eu amo."
Seguimos!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Foi um prazer, Lya

Eu já havia tido um breve contato com Lya através de uma leitura rápida de Perdas & Ganhos. Mas foi nessas férias, merecidas e memoráveis, que aprofundei meu contato com os livros dessa magnífica escritora.
Li O tigre na sombra, repleto de conflitos existenciais e familiares e que traz reviravoltas das possibilidades da vida (e por que não da morte?), do qual retirei os recortes abaixo, e comprei O ponto cego e O quarto fechado, que entraram na fila de leitura que não para de crescer. Lya Luft agora está na lista das minhas paixões. Foi um prazer ter tido você comigo nas minhas férias, Lya. Obrigado. E bem vinda ao meu quarto e ao meu mundo. 


"Quando estavam de bom humor os deuses abriram as mãos e despejaram sobre a terra os oceanos com seus segredos, os campos onde corre o vento, as árvores com mil vozes, as manadas, as revoadas - e, para atrapalhar tudo, as pessoas.
Mas onde está todo mundo? Buscando se anestesiar ou obter respostas, atrelados às mesmas incansáveis perguntas, como, quando, quanto, por quê, por que eu?"

"Amar é para os loucos:
me perdoem os românticos
e os sensatos,
se ainda existir algum por aí."

"As pessoas ficam muito boas quando alguém morre. Nessas horas aparecem parentes, primas, cunhadas, que na vida normal nem conhecemos direito: a morte une e reúne os mais desconexos e singulares, até que o cotidiano volte a engolir todos."

"Não sei se tudo são escolhas ou se algumas coisas vegetam feito plantas carnívoras nas nossas circunstâncias e na nossa bagagem psíquica. Nunca vou saber. Não adianta saber."

"As pessoas morrem demais.
A morte: o que ela faz com a gente. Arranca as entranhas, te deixa vazia, por dentro só uma ferida aberta, mucosa inflamada e suja. Você só por obrigação se arrasta num mundo irreal, queria mesmo era ficar na cama. Pessoas chegam, falam, tocam você, dizem coisas sem sentido, o mesmo de sempre, reaja, a vida continua, o mundo não acabou, ele ou ela queria que você continuasse vivendo bem.
"


"Como dizia a minha Vovinha, isso de realidade é bobagem: cada um inventa a sua, o avesso pode ser o certo, no espelho pode estar a vida, e tudo aqui fora ser um sonho."

"Toda história humana é complicada.
Nenhuma termina:
as ondas do mar são sempre as mesmas.
"


"O paraíso é duro de ser transitado.
As respostas não têm importância.
O amor é difícil - às vezes chega tarde.
"