Fiz essa pergunta, dias atrás, para uma pessoa com a
qual eu conversava. Ela ficou pensativa, fez umas caretas, resmungou e admitiu
que nunca havia pensado nisso.
De fato, devido à correria da vida contemporânea e aos
muitos compromissos que preenchem os dias das pessoas e consomem muito tempo e
muita energia, muitas delas acabam fazendo suas tarefas quase que
mecanicamente, acionam o piloto automático sem sequer perceber elementos outros
que saiam da rotina preestabelecida.
Ocorre aí um processo semelhante ao que Aldous Huxley
descreve no Admirável Mundo Novo, ou seja, as pessoas tronam-se, de certa
forma, homens e mulheres máquinas, robôs. Acabam por realizar apenas aquilo a
que foram condicionadas a fazer e não sentem, não querem, não aspiram nada além
daquilo que está posto, como se não houvesse possibilidade de outra realidade
para além da que se vivencia.
Agora estendo a pergunta a você que está me
lendo. Você sente o que sente? Quando alguma coisa lhe deixa triste,
cabisbaixo, você vivencia essa tristeza ou, apesar de estar se contorcendo de
dor por dentro, fica com um sorriso estampado no rosto? Ou ainda: você consegue identificar quando está bem subjetivamente? Mais: você sabe de onde vem ou o que está causando isso que está sentindo? Será que você não está
com o piloto automático acionado e nem está percebendo?
Entendo que algumas pessoas podem, por suas
características singulares, não demonstrar fisicamente aquilo que lhe vai nas
emoções, ou seus dilemas, os problemas, as atribulações da existência e,
também, as alegrias, as glórias, os gozos que têm pelo caminho. Se comportar
assim por características existenciais é uma coisa bem diferente do que adotar
essa atitude, essa postura baseando-se em fórmulas prontas de pensamentos
mágicos que são vendidos diariamente nas bancas de revistas, nos livros de
autoajuda, nos programas de TV. E o que tenho percebido é que esta última está
se tornando uma tônica.
Então me dirijo, novamente, a você: você sente o que
sente?
Talvez isso não tenha importância para muitas
pessoas. Talvez estar no piloto automático seja a coisa mais producente para
elas devido à constituição das circunstâncias e contextos que estão inseridas.
Mas, para algumas outras, a robitização, o piloto automático, o embrutecimento
não tem nada a ver com elas e então isso merece receber a atenção necessária
para que não traga sintomas contraproducentes à sua forma de ser no mundo.