Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Mediação*

João e Maria se enamoraram e passaram um tempo neste romance. Eles formaram um belo casal, compartilharam princípios de verdade, construíram um linda história juntos.
Certa feita Maria decidiu comunicar João de sua decisão de romper o relacionamento. Ela disse que aprendeu muita coisa com ele, que o amou como nunca amara alguém antes, que foi muito feliz no tempo em que estiveram juntos, se disse agradecida por tudo, mas que tinha novos caminhos para trilhar e que nisso ele, João, não estava incluído. Surpreso, ele não entendeu muito bem.
Pode ser que João tenha sido uma estrada, um apoio, uma mediação para que Maria amadurecesse e conseguisse vislumbrar novos horizontes.
Ocorre que algo que servia como elo de interseção entre ambos não tem mais o mesmo significado, a mesma força ou até mesmo deixou de existir. 

Se olharmos para nossa própria história, veremos que algumas vezes fomos mediação para nós mesmos, que noutras servimos de mediação para outras pessoas, ou ainda que utilizamos algo ou alguém como mediação. Isso não quer dizer que tenhamos agido de má fé ou que assim agiram para conosco, ou que seja negativo, errado, pecado, ruim, nem nada.
São possibilidades que se apresentam à nossa alma e que independem apenas de nossa própria volição. Respeitar isso é o mais indicado, pois é parte da dignidade humana deixar a outra pessoa partir.

Saber lidar com uma situação como a descrita acima é uma atitude nobre. Que bom se pudéssemos todos vivenciar este processo sem culpa, sem mágoas, sem remorso. Isso não ocorre na maioria dos casos porque em nossa época o amor ainda é vivenciado como posse e a racionalidade é acionada nestas circunstâncias para procurar os porques, apontar culpados, dramatizar, julgar e uma gama de outras coisas que não contribuem em nada para o nosso aprendizado, para o nosso desenvolvimento, para o nosso crescimento existencial.

Outro exemplo rápido de mediação:
Sabe aquela criança que ralou desde muito cedo para alcançar seu objetivo de se tornar um jogador de futebol, passou por necessidades financeiras e de tantas outras ordens, deixou a família e foi morar na sede do clube?
Pois, agora adulto, essa pessoa que fez de tudo visando a profissionalização decaiu em rendimento, não tem mais vontade de treinar, de concentrar, de jogar.
O que será que aconteceu? Pode ser que esta pessoa utilizou seu talento como mediação para o sucesso, para a fama, para a fortuna. Agora que alcançou o que pretendia, simplesmente abdicou daquilo que era apenas mediação para a efetivação disso.

*Produzido a partir de anotações feitas em aulas, palestras, workshops de Filosofia Clínica ministradas pelo Professor Lúcio Packter.
Contribuições e orientações são bem vindas.
Abraço de paz.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Lições do dia-a-dia

Certa feita, no final de um show, um flanelinha se aproximou de mim antes mesmo de eu fazer menção de entrar no meu carro. Eu não tinha grana. No carro tinha algumas moedas, alguns centavos que não somavam dois reais. Depois que abri o carro, peguei as moedas e antes de entregá-las para aquela pessoa que disse o ter vigiado estendi a mão para ela. Falei algo que nem lembro. Tipo, "obrigado, tenha uma boa noite" ou "desculpa, mas é o que tenho pra te pagar", ou algo do gênero. 
Antes mesmo de eu sair de onde o carro estava estacionado, um amigo que viu a cena me ligou perguntando se eu não tinha medo de ser assaltado, sequestrado e toda uma gama de possibilidades - todas péssimas, diga-se de passagem. Eu ri e desliguei o telefone.
Nunca vi uma pessoa tão feliz na vida. Aquele tiozinho apertou minha mão, deu um sorriso e me agradeceu. Me disse que o aperto de mãos valia mais que qualquer grana que ele ganhasse naquela noite.

Outro dia conversei demoradamente com uma pessoa radical, dogmática ao extremo, rígida, dona da verdade (tanto que não é fácil vê-la conversando com alguém). Por conhecer como ela funciona, me debrucei em interferir minimamente e ouvir suas teses mais mirabolantes, suas verdades absolutas, etc e tal. Fiquei zonzo. Foi um turbilhão de informações. Vez em quando eu dava uma opinião, falava um pouco sobre o que eu pensava a respeito, já pensando em encerrar o assunto e, consequentemente, a conversa que já se estendia por um longo tempo. 
Mal tinha me despedido de tal pessoa, um colega me questionou como eu podia ter paciência para ficar ouvindo asneiras daquela pessoa.
Eu queria que alguém visse a alegria gritante do tagarela por eu ter dedicado um tempinho para conversar com ele. A expressão do rosto dele foi fantástica.

Eu converso com guardas de trânsito, com porteiros de edifício, com pessoas no elevador, com garçons e atendentes de restaurantes e cafés, cumprimento pessoas que nunca vi na vida, que nem sei quem são. Quando faço isso, percebo que tais pessoas se sentem vistas, valorizadas por gestos tão pequenos. É incrível como isso as deixa num pé de igualdade conosco. É um contato de pessoa para pessoa. Caem as máscaras de idade, profissão, estado civil, opção sexual, religiosa, política... Claro que algumas, sabe-se lá por que motivos, preferem ignorar minhas tentativas. Para estes casos, paciência e respeito à forma delas se posicionarem no mundo. 

Eu gosto disso. Muitas experiências bacanas nascem daí. O diálogo, a troca, a interseção despertam meu interesse. -muito embora monólogos sejam interessantes, às vezes.

Finalizo com o que escreveu Renato Janine Ribeiro em sua coluna na Revista Filosofia - Ciência & Vida, Nº 72, de julho deste ano:
"Eu não preciso dialogar só com quem concorda comigo, Aliás, a maturidade existe justamente quando consigo conversar, com respeito, com quem é diferente de mim. Aprende-se muito desse jeito."

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Incompatibilidade

Nunca pensei em me transformar em um fantoche para agradar alguém. Não gosto de ser manipulado, embora acredite que não tem como viver uma liberdade plena, dadas algumas coações e obrigações que o mundo nos cobra. 
Por não gostar de faz-de-contas, tampouco me esforço para passar uma imagem de mocinho, de bom samaritano. Talvez eu perca oportunidades ímpares de conhecer pessoas bacanas por conta disso. Mas não vale a pena ser algo por alguns instantes sabendo que logo a máscara vai cair. É melhor assim. Não engano outrem, nem a eu mesmo.
Também não tenho pretensão alguma em esculpir alguém com as formas e conteúdos que me convenham. Quem sou eu para ditar os rumos da vida de outra pessoa? Se isso me for solicitado, é de se pensar; caso contrário, jamais. Prefiro a autenticidade, que cada um viva conforme suas singularidades.
E que assim seja. Sejamos felizes, cada um com seus travesseiros.     

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Dos meus delírios noturnos


Me permito compartilhar esse recorte de Humano, demasiado humano, do Nietzsche. Claro que, sendo um recorte, o trecho perde em contexto. Ainda assim passo adiante. Talvez sirva de reflexão para algumas pessoas.

"Deveríamos recordar-nos de um pensamento de Lichtenberg: 'É nos impossível sentir por outrem, como se costumar dizer; sentimos apenas por nós. A frase parece dura, mas não o é, desde que seja bem entendida. Não amamos nem pai, nem mãe, nem mulher, nem filhos, mas as sensações agradáveis que eles nos dão', ou conforme diz La Rouchefoucauld: 'se cremos amar a nossa amante por amor a ela, estamos bem iludidos'".

Boa noite!

=)

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Show de Truman

O Show de Truman: o show da vida (do original The Truman Show) é um filme lançado em 1998 que tem Jim Carrey como ator principal.
Truman leva uma vida tranquila até descobrir que tudo em seu mundo é artificial, manipulado. Desde o seu nascimento ele é vigiado por milhares de câmaras que transmitem sua vida ao vivo por um canal de televisão. Seu primeiro choro, o primeiro sorriso, o primeiro dia da escola, a perda do primeiro dente, as alegrias, as angústias, tudo isso e muito mais é visto há anos pelos telespectadores.
Ao descobrir indícios da farsa, aos poucos Truman vai buscando se desvencilhar deste mundo inventado. 
Não vou falar o final para não perder a graça para quem não viu o filme ainda.

A película instiga várias reflexões. Uma delas é a questão de acomodar-se ao que se tem posto, ficar numa zona de conforto, até mesmo numa certa alienação ou romper com isso, superar aparentes limitações e inventar um mundo que tenha a ver com as próprias singularidades e buscas? 

É uma boa indicação de filme. Talvez tenha que ser visto e revisto para uma melhor percepção dos detalhes. Mas vale a pena.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

SINTOmas

Vontade de pedir que você diga tudo aquilo que eu quero ouvir. Mas para isso eu preciso saber o que é que eu quero ouvir. E estou te dispensando desta. Ao menos até que dure esta indefinição. 
Aliás, dispensas têm sido uma tônica ultimamente. 
Desapego levado ao pé da letra, mesmo que não por iniciativa própria; talvez por falta de opção.
Apegar-se ao desapego é que é um risco.
"O problema não é contigo". Ok, se não é comigo, o problema sou eu? Ou "o problema não é contigo" é esquiva? Ou não é uma questão de ter problemas.
Esquivar. Racionalizar. Argumentar. Tentar explicar algo que não se tem propriedade.
Ouvir formulazinhas prontas de quem nunca quebrou a cara, de quem na real está cagando para ti e para como tu estás se sentindo é um exercício de paciência.
Viver cercado de mestres dos magos é reminiscência da Caverna dos Dragões. E o que menos quero agora é poluir a animação com minhas paranoias.
A poesia tem me salvado. A música tem me alimentado. A solidão tem me feito uma ótima companhia. 
Tenho saudade de sentir saudade. Da verdadeira, não da de faz-de-contas.
Colorir os dias ou viver num preto e banco? Talvez uma luz cinza, que é menos mau que a escuridão completa.
Um risinho idiota, ou um semblante fechado e não menos idiota?
Vou deixar tudo isso para outra hora. Agora vou pegar meus patins, um vento no rosto, me drogar de adrenalina.
Depois do banho muito disso já terá ficado para trás. 
A noite será uma criança.
E depois de contemplar a lua os horizontes serão outros.


Vamo que vamo!