Ele conheceu uma garota que é tremendamente apaixonada por
doces. Não tem hora, lugar, situação que ela recuse um docinho. Malandro, logo
pegou no ar essa mania dela. Bem, não foi tão no ar assim.
A primeira observação que fez a respeito foi numa madrugada
pós-balada. Dia clareando, os corpos cansados e ela se dirige à cozinha. É
normal uma larica, uma sede, uma curiosidade para ver se ninguém roubou alguma
coisa de dentro da geladeira. Elegante, ainda maquiada, ela retorna com... Com?
Sim! Com um pote de doce de leite que repousa no colo, em cima da cama.
“Quer?”, disse ela oferecendo uma colherinha para o rapaz. Depois
da recusa dele, a moça acabou com uma colherinha em cada mão. Os dois riram
alto. E o conteúdo do pote foi-se rapidinho. Ela não percebeu, mas ele ficou vidrado
nos lábios dela enquanto passava a língua nas colherinhas. Maldita (ou bendita)
cabeça masculina que viajava em sexo oral enquanto sua companheira se
alimentava. Talvez ele tivesse a esperança de uma transa, já que os níveis
de glicose dela certamente haviam se elevado consideravelmente, a ponto de dar
um upgrade na energia. Mas não rolou. O cansaço foi maior que eles. Às vezes
algumas horas de sono são mais importantes que um orgasmo.
Noutra ocasião, conversavam sobre relacionamentos. Temas como
paixão, sexo, amor, perda de identidade na relação, autoafirmação, crises eram
tratados com se fossem PHD´s no assunto, porém, formados em instituições
radicalmente paradoxais. Claro que homem e mulher fazendo uma DR sem mesmo
estarem numa relação só podia dar em alguns desentendimentos. E, além disso,
ambos eram jovens e, incrivelmente, relações afetivas duradouras, namoros,
popularmente falando, estavam fora de seus dicionários no momento.
A certa altura da conversa, ela fechou o semblante e
sentenciou “Ah, não! Nunca imaginei que você seria capaz de pensar assim”. Todo
sem jeito ele tentou se desculpar. Até que estava conseguindo, não fossem mais
algumas palavras equivocadas que só fizeram a garota confirmar a indignação com
o que estava em questão. Pelo ar que tomou aos pulmões, ela iria soltar algum palavrão. Talvez manda-lo à merda, chamá-lo de filho da puta ou alguma
coisa assim. Ou talvez fosse enfiar a mão na cara dele. Mas o rapaz, numa
atitude astuta, lembrou da paixão dela por doces e antes que algo pudesse
acontecer “aceita um chocolate?”. Nooossa! Foi como se ela tivesse visto o
príncipe encantado chegando num cavalo branco. O doce salvou a conversa.
À noite eles saíram para jantar. Foram para a balada descontrair,
dar umas boas risadas. Estavam reluzentes de felicidade. Não uma felicidade
instantânea que vem e vai em 5 minutos. Era mais que isso. Nem eles próprios
sabiam explicar. Uma bebida aqui, outra lá e os risos estavam mais soltos. Os
corpos também. E os pensamentos...
Chegando no apartamento dela (sim, pois ela é a princesa, ele
o plebeu) ambos se jogaram na cama. Estava escrito nos olhos deles que ia rolar
uma transa. Os hormônios também anunciavam isso. E a conexão bacana deles
ajudava. Então o que faltava? Nada! O momento era deles. Só ele e ela, só ela e
ele.
Posso afirmar que intensidade é uma palavra que definia
aquele momento. Lábios e línguas que se tocavam. Mãos que percorriam as curvas
daqueles corpos ávidos, exalando desejo. Suspiros e gemidos. Tensão e tesão.
Nada programado. Nada forçado. Outra palavra que poderia definir aquilo tudo é
entrega.
Esticando o braço, ele pega algo que pelo barulho deu a
entender ser uma camisinha. Mas não era. Soltando um risinho ele sussurra em
tom irônico, sarcástico até, “querida, fica tranquila. Quero que curta esse
momento. Relaxa e goza” e entrega um bombom para a garota. Tinha tudo para dar
merda. Mas ela riu alto e o clima, por incrível que pareça, não foi quebrado. E
a transa deles foi algo indescritível.
A sacada do rapaz da paixão da garota pelos doces foi algo
que manteve um laço entre eles. Algo pouco convencional, sabemos, mas que
certamente estará para sempre no acervo de histórias de ambos. Quanto à garota,
é claro que ela continua tri parceira dele, mas quando questionada o que
prefere, ela não titubeia “minha paixão é os doces, o resto é diversão”.
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