Originalidade?

Minha história se fez e se refaz com resquícios de tudo que encontra minhas circunstâncias. O que se apresenta para minha representação pode (ou não), em maior ou menor relevância e intensidade, ser incorporado à forma com que entendo o mundo.
As tintas com as quais pinto as telas da minha existência são variadas. Algumas cores já foram utilizadas por muitos outros artistas e integram minhas obras por serem ainda vivas, intensas; outras matizes, por sua vez, são inéditas, mesclas de algumas cores que ninguém antes havia ousado em compor.
Se alguém sentir-se lesado por algum escrito, favor me comunicar por e-mail que tentaremos resolver isso.
Divirta-se ou se entristeça.
Boa viagem!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2000 e?

             Última madrugada. Última lua cheia. Último despertar ao meio-dia. Última página do calendário de 2012. E o que ficou disso tudo?
            Foi um ano bacana. Teve meio que de tudo. Em alguns momentos, penso que poderia ter investido um pouco mais. Minha sede era grande e a vertente certamente não secaria se eu tivesse me saciado e até me permitido um pouco de gula. Afinal, humanos costumam pecar ou por excesso ou por falta, por ações ou por omissões.
            Olhando para esse passado recente posso afirmar que as dimensões galinha e águia se alternaram em minha vida. Não foi uma dança harmônica. Dependendo das circunstâncias, a minha dimensão galinha me falava para continuar com os pés firmes, ciscando no terreno já conhecido, sem riscos, sem perspectivas do novo. Já em outros momentos, a dimensão águia me alertava para deixar para trás algumas coisas, desapegar do conformismo, alçar voos, contemplar novos horizontes. Isso não se deu sem crises existenciais, pois a vida nem sempre segue os manuais que nos vendem por aí. Menos mau que os que andam do meu lado nunca me deixaram sem base e em alguns trechos do percurso até mesmo me carregaram nos braços. Gratidão é a palavra para estes que me sustentaram tentando evitar alguma queda ou que me ajudaram a levantar depois de uma delas.
            Foi um ano de muito aprendizado. E nessa troca, devo ter imprimido um pouco de mim nas relações que estabeleci. Também trago comigo boas marcas de gente que caminhou comigo ou que simplesmente cruzou comigo em alguma encruzilhada. Termino o ano sem algumas coisas que tinha quando 2012 iniciou. No outro lado da balança estão algumas coisas que eu nem sequer imaginei lá no início do ano e que agora terminam 2012 comigo.
            Movimento. A natureza nos cobra isso. Os deuses dão as cartas e o resto é com a gente aqui nessa maluquice terrena. Corri atrás do que acreditava ser justo para com a minha visão de mundo. Lutei pelos meus ideais sem pretensão alguma de puxar o tapete de alguém. Plantei algumas coisas, reguei algumas outras e tive o prazer de desfrutar cada momento de forma intensa.
            Fiz altas correrias. Trabalhei muito. Meu estilo de vida é de vagabundo, mas tenho algumas responsabilidades que não posso deixar de lado. Curti meu quarto, minhas músicas, meus livros, meus filmes. Prezei pela minha saúde plena, corpo, mente, relações pessoais, espiritualidade. Amei pessoas, animais, plantas, coisas. Algumas vezes me decepcionei com pessoas, animais, plantas, coisas. Mas quem disse que isso não faz parte do pacote? Quem leu o contrato e as regras de uso da existência sabe das cláusulas que rezam que nada é para sempre, que a gente às vezes vai sofrer, se decepcionar, magoar alguém, ter algumas perdas e uma infinidade de possibilidades que fazem da vida esse mistério indecifrável que ela é.
            Eu me joguei em 2012.
   Em 2013 quero dar triplos twist´scarpados. Quero inventar novos saltos que ninguém jamais ousou em criar. Claro que eu sei dos riscos de quedas e de fraturas.Mas que tal alimentar também a esperança de aplausos pelo simples fato de tentar? E se a manobra dar certo? Quem nada faz, só é reconhecido e só se regozija por nada fazer. Não é o que quero para o ano que vem pedindo licença para entrar.
   Quero dar continuidade a algumas coisas. Meu rock´n´roll, meus cafés, minhas leituras, minha contemplação à lua, meus banhos de chuva, minhas bolinhas de sabão, minhas andanças de pés descalços e sem camisa, os abraços apertados nos meus chegados, o carinho sincero, o amor incondicional. “Mas tu pensa pequeno, Everton!”. Não! É que para mim essas pequenas coisas impulsionam todas as demais. Outras coisas quero manter bem longe. Sai de mim arrogância, ganância, prepotência, falsidade, inveja e tudo mais que não me leva a lugar algum. 

            Desejo que seja um ano de oportunidades criadas, não de oportunidades caídas do céu. Espero que você surpreenda 2013, não que 2013 te surpreenda. Esperança é importante, mas mais importante que isso é ir para a correria, para a luta do dia-a-dia e fazer as coisas acontecerem, ou ao menos tentar.
            Viver pode ser pesado e cansativo ou ser leve e prazeroso, dependendo de como nos empenhamos nesse exercício. Que julguemos menos e compreendamos mais;transformemos as barreiras em temperos para dar um gosto diferente e exótico às nossas conquistas; saibamos a hora de nos embrutecermos como rochas e o momento de sermos sensíveis como lágrimas. Que possamos existir e não apenas sobreviver.
            Seguimos em frente cada qual com suas prerrogativas.
    Vamos nessa!
Imagem retirada do Facebook Oficina da Alma.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Meu pedido para o amigo oculto

Virou tradição a brincadeira de amigo oculto no final do ano entre os meus colegas de trabalho. Na revelação, tem comes e bebes e muita risada e diversão. Este ano, porém, faremos uma revelação bem discreta, sem festa. Infelizmente há poucos dias fomos surpreendidos pelo óbito de uma colega que se envolveu num trágico acidente de carro. 
=/

Como de costume, os organizadores providenciam uma caixa onde são deixadas mensagens, cartas, pedidos de presente. É uma forma de comunicação bem interessante, diferente desse mundo cibernético ao qual estamos conectados e habituados. 
Este ano deixei um recadinho para quem tirou meu nome na brincadeira.
Estou compartilhando com vocês.


Meu amigo, minha amiga...

            Nesse clima de festividades natalinas e de final de ano muitas pessoas aproveitam para limpar seus lares, enfeitar ambientes, decorar ruas e comércios. É lindo, não é? Quase tudo vira “neverland”. As crianças adoram. Elas vivenciam de fato a magia das luzes e, principalmente, a expectativa do presente que o Bom Velinho trará. Quanta imaginação!
Por onde será que o Papai Noel vai entrar? Será que vou conseguir vê-lo ou ele fará uma entrega rapidinha, sem abraços, sem ho-ho-ho! Será que vai mesmo trazer o que lhe pedi? Quem sabe traga até mesmo algo mais, pois respeitei papai e mamãe, professores e coleguinhas, tirei notas boas, fui à igreja (fiz algumas cagadinhas também, mas criança tem desconto pelo simples fato de ser criança – e, afinal de contas, é tempo, dentre outras coisas, de perdão).
            Pois então... que tal tratarmos de fazer também uma limpeza interna? Deixar de lado aquelas mágoas que não levam a lugar algum. Perdoar aquela ofensa que nos fizeram sem que tivéssemos culpa por alguma coisa. Pedir desculpas por aquela idiotice que possa ter magoado alguém. Coisinhas simples assim que podem dar novos ares para nossa existência, tal como as luzinhas dão às decorações que vimos por aí.
            E tem mais uma coisa, importantíssima aliás: fazermos com que essas ações perdurem é indispensável. Não adianta deixarmos para dezembro sermos pessoas boas e o resto do ano ficarmos causando terremotos por onde passamos. Vamos alimentar as coisas boas, as atitudes simples, mas que podem fazer um bem enorme ao nosso coração, à nossa alma e a quem nos rodeia.
           
Bem, quanto ao amigo secreto, não tenho muita coisa para pedir. Um abraço estaria de bom tamanho. Mas se quiseres me dar um brinquedinho de fazer bolinhas de sabão, eu vou adorar.

E para você, amigo ou amiga, eu desejo um caminho cheio de realizações e que tua existência seja repleta daquilo que para você é indispensável.

Abraço forte aos meus amigos e amigas, colegas de jornada, que gastam suas energias contribuindo da melhor forma no desenvolvimento das criaturinhas que passam aqui pela escola.  

E.A. Corso
Dezembro de 2012. 

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

café nosso de cada dia


É estreita a minha relação com o pó preto. Fico feliz por não ser com o pó branco, né?! Melhor o vício em cafeína que em cocaína. Ao menos é o que me parece. A saúde física e mental agradece. Sem contar que café tem em qualquer mercadinho de esquina. Outro aspecto também muito importante: não vi noticiários, jornais, revistas nem boatos na internet informando sobre a morte de alguém por acerto de contas por meio quilo de café.  


Tenho acompanhado o resultado de várias pesquisas com relação ao consumo de café. Consumo moderado, vale lembrar. Só não consigo mensurar direito ao que se refere essa moderação. Quando me dizem para tomar cuidado com a quantidade, logo me defendo: "imagina, eu aprecio com moderação". Isso soa bem, né?! Ainda mais com a ênfase que dou ao "aprecio". Apreciar é mais chique que tomar, beber, usar. 

Claro que tem muita coisa envolvida por detrás das pesquisas. Sabe-se lá quem as encomenda e com quais interesses (o que raras vezes é divulgado). O fato é que a maioria delas aponta para os resultados benéficos do cafezinho nosso de cada dia. Algumas outras enfatizam os riscos que o uso/abuso da substância podem trazer para a saúde.

Tem um fator que pesquisa nenhuma ainda considerou e que agora eu (um pobre consumidor ou um nobre apreciador?) apresento: os rituais do preparo do café e o cerimonial nos entornos dos goles da bebida sagrada também atuam sobre o organismo. Ou seja, imagine aquela conversa bacana com um amigo ou uma amiga na companhia de uma cafezinho, o papo rolando solto sobre o trabalho, o casamento, aquele projeto que está prestes a ser realizado, aquela decepção que pensou que havia superado, mas que parece que não foi bem assim... Mas se você não quer companhia alguma a não ser do café, também está valendo, é um momento seu, de introspecção. Aaaahh! 

Arrisco a dizer que o efeito disso no organismo pode ser maior (e, quem sabe, melhor) que a ação da cafeína. 

Se você achar que isso tudo (de cafeína, café, efeito no organismo, preparo, ritual) não passa de bobagem, ok. Para você isso não passa de bobagem. Não estou com uma Uzi apontada para a sua cabeça querendo que concorde com minhas palavras ou que tome um café comigo.


Falando em café... 

Vou aproveitar o meu aqui. Antes que ele esfrie.

;)

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

sexo doce


Ele conheceu uma garota que é tremendamente apaixonada por doces. Não tem hora, lugar, situação que ela recuse um docinho. Malandro, logo pegou no ar essa mania dela. Bem, não foi tão no ar assim.
A primeira observação que fez a respeito foi numa madrugada pós-balada. Dia clareando, os corpos cansados e ela se dirige à cozinha. É normal uma larica, uma sede, uma curiosidade para ver se ninguém roubou alguma coisa de dentro da geladeira. Elegante, ainda maquiada, ela retorna com... Com? Sim! Com um pote de doce de leite que repousa no colo, em cima da cama.
“Quer?”, disse ela oferecendo uma colherinha para o rapaz. Depois da recusa dele, a moça acabou com uma colherinha em cada mão. Os dois riram alto. E o conteúdo do pote foi-se rapidinho. Ela não percebeu, mas ele ficou vidrado nos lábios dela enquanto passava a língua nas colherinhas. Maldita (ou bendita) cabeça masculina que viajava em sexo oral enquanto sua companheira se alimentava. Talvez ele tivesse a esperança de uma transa, já que os níveis de glicose dela certamente haviam se elevado consideravelmente, a ponto de dar um upgrade na energia. Mas não rolou. O cansaço foi maior que eles. Às vezes algumas horas de sono são mais importantes que um orgasmo.
Noutra ocasião, conversavam sobre relacionamentos. Temas como paixão, sexo, amor, perda de identidade na relação, autoafirmação, crises eram tratados com se fossem PHD´s no assunto, porém, formados em instituições radicalmente paradoxais. Claro que homem e mulher fazendo uma DR sem mesmo estarem numa relação só podia dar em alguns desentendimentos. E, além disso, ambos eram jovens e, incrivelmente, relações afetivas duradouras, namoros, popularmente falando, estavam fora de seus dicionários no momento.
A certa altura da conversa, ela fechou o semblante e sentenciou “Ah, não! Nunca imaginei que você seria capaz de pensar assim”. Todo sem jeito ele tentou se desculpar. Até que estava conseguindo, não fossem mais algumas palavras equivocadas que só fizeram a garota confirmar a indignação com o que estava em questão. Pelo ar que tomou aos pulmões, ela iria soltar algum palavrão. Talvez manda-lo à merda, chamá-lo de filho da puta ou alguma coisa assim. Ou talvez fosse enfiar a mão na cara dele. Mas o rapaz, numa atitude astuta, lembrou da paixão dela por doces e antes que algo pudesse acontecer “aceita um chocolate?”. Nooossa! Foi como se ela tivesse visto o príncipe encantado chegando num cavalo branco. O doce salvou a conversa.
À noite eles saíram para jantar. Foram para a balada descontrair, dar umas boas risadas. Estavam reluzentes de felicidade. Não uma felicidade instantânea que vem e vai em 5 minutos. Era mais que isso. Nem eles próprios sabiam explicar. Uma bebida aqui, outra lá e os risos estavam mais soltos. Os corpos também. E os pensamentos...
Chegando no apartamento dela (sim, pois ela é a princesa, ele o plebeu) ambos se jogaram na cama. Estava escrito nos olhos deles que ia rolar uma transa. Os hormônios também anunciavam isso. E a conexão bacana deles ajudava. Então o que faltava? Nada! O momento era deles. Só ele e ela, só ela e ele.
Posso afirmar que intensidade é uma palavra que definia aquele momento. Lábios e línguas que se tocavam. Mãos que percorriam as curvas daqueles corpos ávidos, exalando desejo. Suspiros e gemidos. Tensão e tesão. Nada programado. Nada forçado. Outra palavra que poderia definir aquilo tudo é entrega.
Esticando o braço, ele pega algo que pelo barulho deu a entender ser uma camisinha. Mas não era. Soltando um risinho ele sussurra em tom irônico, sarcástico até, “querida, fica tranquila. Quero que curta esse momento. Relaxa e goza” e entrega um bombom para a garota. Tinha tudo para dar merda. Mas ela riu alto e o clima, por incrível que pareça, não foi quebrado. E a transa deles foi algo indescritível.
A sacada do rapaz da paixão da garota pelos doces foi algo que manteve um laço entre eles. Algo pouco convencional, sabemos, mas que certamente estará para sempre no acervo de histórias de ambos. Quanto à garota, é claro que ela continua tri parceira dele, mas quando questionada o que prefere, ela não titubeia “minha paixão é os doces, o resto é diversão”.

domingo, 2 de dezembro de 2012

minha (des)organização

No fundo eu suspeito do que é muito certinho. É mais ou menos como o velho ditado que diz que "quando a esmola é demais, o santo desconfia". O que é muito arrumadinho me passa a impressão de camuflagem, de maquiagem. Isso vale para coisas, pessoas, situações...
***
Meu quarto, por exemplo, é um lugar que algumas pessoas podem considerar uma bagunça. Tudo bem, eu concordo; mas é uma bagunça organizada. Eu ainda consigo saber onde está cada coisa que eu preciso.
O meu quarto tem vida. Aquela caneca com restinho de café que ficou do lado do computador. O copo de refrigerante que ficou do lado da cama. A garrafinha de água que caiu no chão e já foi chutada trezentas vezes. Os livros e revistas com leituras iniciadas espalhados, alguns na cama, outros na mesinha, outros... ah, nem vou falar. Roupas jogadas num banco, ou numa cadeira, ou no chão. Calçados para guardar. O clássico puxão de orelhas da mãe "de novo a toalha molhada em cima da cama!?". Enfim, quem nunca viu um quarto assim?
Pois então, talvez tenha gente pensando "isso é desorganização", ou "isso é coisa de relaxado", talvez ainda "ah, se morasse comigo as coisas seriam bem diferentes!". Mas como eu já disse, isso é vida. Meu quarto é habitado. Não quero viver num quarto de conto de fadas. 
***
Agora, com licença. Eu preciso procurar uma coisinha aqui. Acho que minha mãe deu uma geral na minha bagunça. E isso  me deixa um pouco perdido. 
Nos falamos em breve...

=)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Existirmos, a que será que se destina?*

O ser humano tem um prazo de validade. Sim! E mesmo com o aumento da expectativa de vida, poucos são os que têm fôlego de um Oscar Niemeyer
Nesse intervalo entre o nascimento e a morte, nos fazemos e nos refazemos, nos inventamos e nos reinventamos. Em tese, existimos. Essa existência até pode sofrer influências de alguns fatores, tais como o biológico, o psicológico, o social. Mas, embora as circunstâncias às quais estamos submetidos possam nos condicionar, ainda assim não somos determinados. Há uma tênue diferença entre condicionamento e determinismo. Como imortalizou Sartre, "a existência precede a essência". 
Nosso caminho não vem trilhado, nem com manual de instruções. O que há é esse caminhar, esse mesmo que por não sabermos onde vai dar às vezes nos anima, outras vezes nos deprime. 
Bem vindos, vida real! Aqui não há garantias de que as coisas aconteçam da melhor forma, tampouco existem indicativos de que tudo será trágico. 
Talvez viver seja um bom começo.
* Aos embalos de Cajuína, de Caetano Veloso.
Vídeos do próprio compositor, 
de uma versão de Marjorie Estiano 
e da Legião Urbana, a que mais ouço.
=) 

 

 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Como você se relaciona?

As relações de mercado se dão, em sua maioria, calcadas na moeda, no dinheiro. Ou seja, para a aquisição de algo, há de ter um pagamento. Essa relação se estende desde o pãozinho do café da manhã até aquela mansão ou aquele carro importado. Pagou, levou. Até virgindade se tornou produto comercializável.
Em épocas mais remotas, essas relações que hoje dependem do dinheiro eram feitas com base na troca. Salvo a minha pouca noção de proporcionalidade, trocava-se um saco de arroz por meio de feijão, um fogão por uma geladeira, um boi por um cavalo e aí por adiante. 
Pois esta relação de escambo tem, muitas vezes, feito parte das relações interpessoais em nossa época. Percebe-se isso através dos chavões, tais como "é dando que se recebe", "é preciso amar para ser amado", "perdoa e serás perdoado", "quem planta amor, colhe paz", entre tantos outros exemplos. É compreensível que para algumas pessoas as coisas se deem desta forma, mas não podemos universalizar isso.
Ademais, nem tudo na vida obedece essa lógica cartesiana, essa rigidez embasada na lei de causa e efeito. Não é preciso muito esforço para desmitificar as frases feitas que foram citadas acima. Conheço pessoas que amam alguém e não se importam se o sentimento é recíproco; amam por amor, não querem receber nada em troca, nem mesmo amor. Conheço casos de pessoas que são quase santas na terra, que tem uma capacidade enorme de perdoar, mas que não foram perdoadas ao cometerem um erro ou equívoco. Conheço gente que não tem paz, mesmo sendo imensamente amorosas com elas próprias, com outras pessoas e com o universo. Enfim, as possibilidades se estendem para além das regras prontas.
Como estamos falando de existência, não se trata de conceber uma maneira de ser no mundo como melhor ou pior, boa ou má. quem vivencie o mundo e suas relações por este prisma e existem também outras formas de ser não menos legítimas.  
O que temo é que nos escambos existencias as pessoas deixem de ser pessoas e passem a ser meros objetos.
Retomo, então, a questão do título do post: como você se relaciona? 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Sobre um querer bem


Não lembro de ter visto algo diferente na comida ou na bebida. 
Mas a poção foi bem forte. 
Estou surpreso com os efeitos dessa droga em mim. 
E confesso: está sendo um barato!
Pensei que o encanto seria provisório. 
Mas já me acostumei com a ideia de ficar meio sequelado.


Deitar ao teu lado me deixa hipnotizado. 
Não consigo racionalizar o que acontece. 
Não tem nome. 
Não tem descrição. 
E quando não estou perto, arranjo um jeitinho de me teletransportar. 
É fácil lembrar do teu sorriso, 
do teu cheiro, 
da tua espontaneidade, 
de tudo aquilo que em ti me atrai.
Você está sendo o motivo das minhas noites insones. 
E, por incrível que pareça, eu acordo disposto, leve. 
Aliás, acho que eu deveria te agradecer por estar
 dando esse sopro de vida ao meu coração.
Vou deixar que percebas minha gratidão 
(se é que já não percebestes) 
e torcer para que não estejas de saco cheio de mim 
e das minhas paranoias.
Eu te quero bem.
;) Eu te perguntei : "e se eu me apaixonar?" 
e você sorriu pra mim...


  

domingo, 18 de novembro de 2012

Carona*


É pregado aos quatro cantos do mundo que deve-se ter o controle, que deve ser a própria pessoa a autora de sua história e tantas outras receitinhas prontas que podem ser adquiridas nas esquinas por aí. Pois muitas vezes uma carona pode ser necessária. Isso mesmo! Deixar de ser o condutor e ocupar outro lugar pode ser producente em alguns casos e para algumas pessoas.

Peguei uma carona com a vida. Me permiti percorrer algumas paragens existenciais antes não conhecidas. Não que elas não existissem; eu é que, ocupado em dirigir pelo trajeto, não percebia alguns detalhes que agora soam forte aos olhos, à alma e ao coração.
                                                 *Embalado pela canção da Cidadão Quem
.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Levanta-te e anda!

Se não me engano tem algo na Bíblia semelhante a "levanta-te e anda!" ou algo do gênero.
Não conheço ninguém que saiu andando da maternidade, de mãos dadas com os pais. Até os primeiros passos, foram necessárias várias tentativas, entre engatinhadas, tropeços nas próprias pernas, bundadas no chão, cabeçadas em cadeiras ou outros objetos e por aí adiante.
Algumas outras coisas dependeram de processos de tentativa e erro, a maioria delas de quedas e retomadas. Quer mais exemplos? 
Não ouvi relatos de alguém que sentou no banco de uma bicicleta e saiu pedalando e feliz da vida. Sem ziguezaguear para pegar o jeito de como tem de ser o equilíbrio e sem quebrar a cara é quase impossível aprender a andar de bike.
Os patinadores, seja de pista de asfalto ou de gelo, também devem ter titubeado um tanto antes de aprender as manobras acrobáticas ou a alcançar altas velocidades. 
Kelly Slater talvez seja os esportista que menos machucou o corpo com as quedas. Mas aposto que ele bebeu alguns grandes goles de água do mar até se tornar o surfista renomado mundialmente que é hoje. Não foi na primeira subida na prancha que ele saiu manobrando-a como uma empregada doméstica manobra um ferro de passar roupas.
Duvido que o Bob Burnquist comprou um skate e saiu dar um rolé numa megarrampa. É claro que este brasileiro, que é um dos maiores skatistas do mundo, deve ter ralado os joelhos, cotovelos e tantas outras partes do corpo nas primeiras tentativas de andar no mais tarde se tornou o seu instrumento de trabalho.
A ginasta Daiane dos Santos, mesmo com todos os treinamentos em colhões e espumas, deve ter se espatifado no chão algumas várias vezes na realização das suas acrobacias. 
Nem precisava ser tão extremo assim, né?! Mas foi proposital. =)
Os exemplos servem para ilustrar que essas pessoas poderiam ter entregado as fichas lá no início. Nos primeiros tombos eles poderiam ter desistido. Mas não! Insistiram, levantaram, caíram, se firmaram, caíram de novo, ousaram novas manobras, 'blum!' mais uma vez e quase infinitas vezes. No caso dos esportistas, a persistência, a repetição quase os leva a perfeição.
Mas a lição que eu quero trazer é que é inevitável que você dê com a cara no chão algumas vezes na vida. Nem nos romances do cinema as coisas não são perfeitas; há várias tramas desconfortáveis antes do final feliz. 
Bem vindos a vida real. Aqui nesse mundo existem incompreensões, traições, rompimentos, mortes e tantas outras coisas que botam pra baixo, que derrubam mesmo. É hipocrisia se achar o super-homem e pensar que vai passar pela vida ileso a tudo o que leva a momentos de tristeza, de reflexão, de isolamento, de dor. 
Aí é que entra a metáfora do início do texto e os exemplos citados acima. Não é o caso de não vivenciar o processo da dor; ninguém é imune a ela. O ponto crucial é que algumas quedas servem para te deixar mais firme no retorno. Sacuda e poeira e siga seu caminho.
Levanta-te a anda! 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Me chama*

Estar junto de alguém é algo mais que a companhia dessa pessoa.  Rola um lance de conexão que se dá mesmo sem o contato físico.
Telepatia? Coincidências? Algo que não tem nome? Ou seria só um coração sinalizando para o sistema nervoso central os delírios de uma paixão?
Um sms que não vem. Uma ligação que não vem. Nada dos sons que indicam uma mensagem nos sistemas de comunicação on line. Você poderia pensar que a outra pessoa não está nem aí para o fato de você estar vivo ou morto, literalmente cagando com a tua situação. Mas não; todo(a) cheio(a) de si, você pensa que o mundo dela está na mesma vibe que o teu, que ela está pensando alguma coisa que diz respeito à você, que só não te procura porque está fazendo todo aquele joguinho de Tom e Jerry que os flertes costumam ter.
E suas noites costumam ser deprimentes porque os sinais não vem. Você até risca a segunda frase deste texto, pois já não há mais a mínima possibilidade de estar conectado a alguém sem estar ao lado dessa pessoa. De tão decepcionado, risca até mesmo a primeira frase deste texto, justificando que não precisa estar com ninguém além de si próprio(a).
Dispara: "mentirosa(o)!", "canalha!" e tantos outros adjetivos que podem passar longe do que seja a outra pessoa. Ele(a) não ter aceitado algo contigo, ter te boicotado, te dado um fora, um bolo, um toco não quer dizer que ele(a) seja isso que agora está pensando dele(a). Até há pouco aquela pessoa era um anjo, agora já se tornou o anjo caído que começou toda a bagunça entre o bem e o mal no planeta terra. 
Então universaliza uma vivência e impermeabiliza suas emoções com base em apenas um relacionamento que deu em nada. Que pena! Assim acaba se fechando para experiências ímpares que poderiam ocorrer logo ali em diante. 
E tem muito disso, viu?!
*Ouvindo esta canção do Lobão vim aqui e despejei estas palavras.

domingo, 4 de novembro de 2012

Aguenta coração* =)

A transição da noite para o dia é bela. A lua, as estrelas e o sol dividem quase o mesmo espaço no céu. Os tons que nascem desta combinação são um tanto interessantes.
Adiciona-se a isso o perfume afável de quem se repousa tranquilamente ao teu lado. Uma mistura e tanto que provoca emoções tão intensas que por palavras não podem ser expressadas.
Aliás, palavra alguma precisa ser dita num momento assim. Os olhos costumam manifestar aquilo que está no coração. 
A cabeça e o corpo pesados clamam por horizontalidade e nenhuma perturbação. Ao longe, o som dos pássaros a cantarolar; ao lado, a respiração suave daquela pessoa que aos poucos vai mergulhando nos estágios iniciais do sono, ajudada pelo toque nos cabelos, no pescoço, nos ombros... 
Que momento magnífico, orgástico. Feito de coisas simples, de forma espontânea e carinhosa, sem cobrar nada em troca.
Depois disso o sono fica mais gostoso, o despertar é mais alegre, o dia é mais prazeroso, a vida fica mais colorida.

*Viajando nos embalos de Dear God - Avenged Sevenfold

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

3 doses de Nietzsche, sem gelo*

1- Sobre o espírito livre (Espírito livre , um conceito relativo):
"Chama-se espírito livre àquele que pensa de forma diferente do que se espera dele, em virtude de sua origem, do seu meio, da sua posição e do seu ofício, ou em virtude dos pontos de vista dominantes da época. Ele é a exceção, os espíritos subordinados são a regra. [...] Ele terá ao seu lado a verdade, ou, pelo menos, o espírito da busca da verdade: ele exige razões, os outros, crenças."

2- Sobre a origem da crença (Origem da crença):
"O espírito subordinado não toma a sua atitude por razões, mas por hábito; é, por exemplo, cristão não porque tivesse examinado as diferentes religiões e escolhido entre elas, é inglês não porque se tivesse decidido pela Inglaterra, mas porque encontrou o cristianismo e a nação inglesa e os adotou sem razões, como alguém que nasceu num país vinícola se torna bebedor de vinho. [...] Obrigue-se, por exemplo, um espírito subordinado a apresentar as suas razões contra a bigamia, e verificar-se-á, então, se o seu zelo sagrado pela monogamia assenta-se em razões ou no hábito. É a habituação a princípios espirituais sem razões que se chama crença."

3- Sobre os homens ativos e escravidão (Principal defeito dos homens ativos):
"Aos ativos falta, habitualmente, a atividade superior: refiro-me à individual. Eles são ativos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas [...] Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda atualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito."

*Extraídas de 
Humano, Demasiado Humano

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

"Excito-me pensando"

A frase do título do post é de um dos precursores do existencialismo, Fiódor Dostoiévski. Nunca tinha lido nada deste autor, até que numa visita a uma banca de revistas vi um livro em edição de bolso com partes de Notas do Subsolo e de O Grande Inquisidor, capítulo de Os Irmãos Karamázov. Deixo aqui algumas citações que destaquei deste escritor que considerou o momento histórico a que o homem está submetido e compreendeu nossa grandeza trágica, já que estamos divididos entre nossa liberdade e nossos abismos mais profundos.
Boas reflexões.

"Jamais consegui me tornar nada, nem mesmo me tornar malvado; não consegui ser belo, nem mau, nem canalha, nem herói, nem mesmo um inseto. E, agora, termino a existência no meu cantinho, onde tento piedosamente me consolar, aliás, sem sucesso, dizendo-me que um homem inteligente não consegue nunca se tornar alguma coisa, e que só o imbecil triunfa. Sim, meus senhores, o homem do século XIX tem o dever de ser essencialmente destituído de caráter; está moralmente obrigado a isso. O homem que possui caráter, o homem de ação, é um ser essencialmente medíocre. Tal é a convicção de meus quarenta anos de existência."

"O homem se vinga porque considera que isso é justo. Encontra então o princípio fundamental que procurava: é a justiça."

"O homem é bruto, terrivelmente bruto, ou, melhor dizendo, não é tão bruto quanto ingrato, e é difícil encontrar quem seja mais ingrato que ele."

"Nossos desejos se enganam muito frequentemente, porque nos enganamos na avaliação dos nossos interesses."

"Se o coração não é puro, a consciência não pode ser clarividante, nem completa".

"Todo homem honesto em nossa época é necessariamente um covarde, um escravo."

"Os pais amam sempre as filhas, mais que as mães. As filhas são geralmente felizes na casa paterna."

"Ninguém deve conhecer o que se passa entre marido e mulher, se eles se amam verdadeiramente. Quaisquer que sejam as desavenças, não devem tomar como juiz nem mesmo sua mãe e nem contar seja o que for. São eles mesmos os seus próprios juízes. O amor é um mistério divino e que deve permanecer escondido aos olhos de todos, aconteça o que acontecer. É melhor assim, é mais santo."

"Oh maldito romantismo dos corações puros! Oh vileza! Oh burrice! Oh mediocridade dessas vulgares almas sentimentais."

"Não tenho vergonha da minha pobreza... Ao contrário, estou orgulhoso dela. Sou pobre, mas sou honesto."

"Não há nada de mais sedutor para o homem que o livre arbítrio, mas também nada mais doloroso."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Os dias melhores começam com a gente mesmo - e agora!

Vejamos uma mesma história, porém por paradigmas distintos. Que cada um(a) analise e possa refletir a respeito. A cena é a seguinte.

Um pai de família está ocupado ajudando sua esposa a preparar o almoço. Ele pede, então, que o seu filho vá até a padaria e compre pães. A cédula de dinheiro que o pai dá ao filho é do valor total de pães que a família necessita, ou seja, uma nota de R$ 5,00. O filho recebe a seguinte orientação: "filho, vai na padaria, fazendo favor, e peça cinco reais de pães". Uma dica simples para um adulto, talvez um pouco complicado para Joãozinho, um menino de 8 anos pouco acostumado a fazer compras.
O garoto se desloca até a padaria e ao chegar no balcão a atendente nem o cumprimenta e já recebe o pedido: "tia, eu quero cinco reais de pães". Ela providencia os pães e a criança entrega os R$ 5,00 para ela. Provavelmente por ter confundido a cédula de dinheiro, a atendente vai até o caixa e trás R$ 5,00 de troco para Joãozinho. Como ainda não tem propriedade sobre como funciona essa coisa de fazer compras, Joãozinho volta para casa com os pães e com R$ 5,00. 
Surpreso, seu pai pergunta se ele deu o dinheiro para a tia da padaria. Joãozinho afirma que sim. E que ela foi no caixa e devolveu esse dinheiro de troco.

Paradigma 1
O pai certamente percebe que a atendente se equivocou na devolução do troco para o Joãozinho (neste caso específico não havia troco a ser devolvido). Ele se dirige com Joãozinho até a padaria, pede que ele mostre quem o atendeu e então chama a moça. "Senhora, meu filho esteva aqui há pouco. Eu dei R$ 5,00 para ele e pedi que ele levasse em pães, mas ele voltou com os mesmos R$ 5,00. Acho que a senhora se enganou. Não precisava devolver troco algum. Esses R$ 5,00 são da padaria. Desculpa o inconveniente. Tenha um bom dia".
E logo explica para o Joãozinho que aquele dinheiro não pertencia à família, que a tia da padaria tinha se enganado e que o dinheiro tinha que ser devolvido, porque isso era a coisa certa a se fazer.
Pai e filho seguem, então, para casa onde se juntam com a esposa/mãe para confraternizaram no almoço.

Paradigma 2
O menino chega com os pães e com os R$ 5,00. Ao devolver o dinheiro para o seu pai, este ri e comenta com a esposa "olha só que otária aquela mulher da padaria, devolveu troco para o Joãozinho e nem precisava devolver troco algum". Ele dá o dinheiro para o menino e diz para ele comprar pirulitos ou fazer o que quisesse com o valor.
O menino corre para a rua, o pai fica almoçando no sofá, em frente à televisão, enquanto a esposa almoça sozinha à mesa.

Eu sou adulto e meu prazo de validade está se esgotando. Mas tem muita criança que tem uma vida inteira pela frente.  
Que educação estamos passando para elas? Quais os valores e exemplos elas estão recebendo de nós? Queremos um mundo melhor no futuro (partindo do aqui e agora, sem deixar para depois) ou pouco importa no que vai virar esse planeta?

Somos livres para pensar. Façamos isso!
E que os laços entre o discurso e as atitudes se estreitem, que diminua o precipício entre a teoria e a prática.


Salute e forza.
Seguimos em frente, 
buscando dias melhores.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Crônica Sobre o (mau) Tempo

Não quero tratar do tempo de forma ampla e profunda, como fez Kant. O alemão era 'expert' em metafísica e talvez tenha sido quem mais se dedicou a esta categoria.

Muitas pessoas, após um evento traumático, seja um acidente, o término de um relacionamento, a perda de um ente querido, costumam dizer que o tempo é o melhor remédio. Quando eu ouço isso, penso com meus botões: se tempo fosse o melhor remédio, será que não teria tempo em gotas, em ampolas e pílulas à venda nas farmácias?
Siiim, de fato o tempo é o melhor remédio para algumas pessoas, em determinadas circunstâncias. E para tantas outras, o tempo passa e não produz efeito algum sobre os percalços que as assolaram. 
Como diria meu querido Wil Goya, "sem contexto, tudo é nada".

Não há como parar o tempo. Podemos raptar todas as pilhas de relógios de pulso, de parede e de bolso (ah, estes acho que existiam só num tempo muito remoto - ou será que os relógios de bolso sobreviveram ao tempo?), podemos incendiar todas as baterias de celulares, iphones, tablets, notbooks, computadores de mesa, podemos derrubar as torres das catedrais e seus gigantescos instumentos que indicam os horários em que os sinos soam... e ainda assim o tempo continuará nos ignorando.
Nós é que não temos como ignorá-lo. Estamos presos ao tempo. Ou melhor, aos tempos. Costumamos jogar passado, presente e futuro no liquidificador da vida e ligamos o aparelho na valocidade máxima. Seja o que for que resulta disso, lá está o tempo a circundar nossas escolhas, nossas lembranças, nossas vivências, nossas projeções.
Tempo objetivo, marcado pelo relógio. Tempo subjetivo, aquele que acreditamos controlar.

Para algumas pessoas, tempo amigo, bom aliado na cicatrização de chagas profundas. Para outros, tempo desgraçado, que insiste em infeccionar as feridas.
E saber que o tempo está nem aí cagando para nós...

Já o mau tempo, aquele que vem acompanhado de fortes rajadas de vento e de trovoadas que transformam a noite em dia por alguns segundos, mudando a coloração do céu e o ritmo dos batimentos cardíacos, esse eu passei a temer depois que num temporal minha casa foi descoberta.
Eita sensação desagradável cada vez que o céu vai dando sinais de que a natureza está revoltada com as atrocidade cagadas que o ser humano fez ao longo da história. 

A boa notícia é que o mau tempo já não me preocupa mais como há puco tempo atrás. Tenho experimentado ouvir música com fone de ouvido no volume mais alto que o barulho provocado pelo mau tempo. E não é que tem dado certo?! 
E minha mãe tem se mostrado uma santa no quesito espantar tempo feio. Ela anda pela casa toda, faz caretas, esfrega as mãos, lê trechos da bíblia, joga água benta pela janela, fuma uns cigarrinhos para tentar aliviar a tensão...
O problema agora é que eu passei a temer por incêndios. O que aquela mulher tem queimado de ramos e galhos é coisa impressionante!

E tem dado certo.
Mãe eu te amo!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ciúmes*

Há meses atrás, em palestra de Filosofia Clínica aberta ao público o tema central foi ciúmes. Para iniciar os trabalhos, uma pergunta inicial foi lançada pelo Professor Lúcio Packter:
- Vocês sentem ciúmes?
Apressado, um colega presente acenou com a mão estendida para cima:
- Ah, eu já senti mais. Acho que aprendi a lidar bem com isso.
Tão logo ele expressou sua opinião, uma colega estendeu o braço para cima, o indicador apontando para o teto:
- Eu sinto! O que é meu eu quero só para mim. Eu sinto uma coisa estranha, uma reação em mim em relação ao ciúme.
Aqui já podemos ir dando as coordenadas. Quem está certo? Quem sente ciúmes ou quem não sente? Não é uma questão de estar certo ou errado, de ser bom ou ruim. Sentir ou não ciúmes indica apenas traços da forma de ser da pessoa. Portanto, a resposta para as questões anteriores é nenhuma das opções.

Sentir ciúmes é uma das características da nossa época. Herdamos os ensinamentos da posse, da propriedade, do ter, mas esqueceram de ensinar-nos o amor genuíno, aquele que parte da afinidade. Isso costuma trazer consigo sentimentos de desconfiança, de insegurança, de dúvidas, de controle. Na maioria dos casos, sentir ciúmes não costuma ser agradável, aprazível. Algumas relações, porém, são calcadas nos ciúmes. Ou seja, o ciúme de X para com a Y pode funcionar como um vínculo muito forte, dando a impressão, para Y, de estar sendo cuidada, acarinhada, protegida por X. 

Às vezes, na relação minha com determinada pessoa falta um pouco de mim para ela; algumas coisas não são transmitidas de mim para ela em forma de expressividade, a ponto de tais coisas ficarem somente em mim. Ocorre que a pessoa talvez encontre em outra pessoa, em outra coisa, em outra situação isso que não vai de mim para ela, isso que de mim não flui para ela. Muitas dessas ocasiões podem desencadear crises de ciúmes.

Existem fenômenos deslocados em se tratando desta temática. Temos exemplos de pessoas que não sentem ciúmes do marido ou da esposa, mas sentem do(a) amante. Descontextualizado isso pode gerar polêmica. Mas o que estamos tratando aqui é de ciúmes. Então que seguremos nosso julgamento ético a respeito disso. Enfim, são tantas as configurações quanto as formas que possamos imaginar.

Muitas vezes as crises de ciúmes não tem nada a ver com a gente, não é nada pessoal. São só elementos que estão em áreas de trânsito em nossa existência e se esvairão de mansinho. 
Então em várias ocasiões podemos evitar confrontos, discussões, mal entendidos, incômodos. Se analisarmos as circunstâncias e identificarmos o que está acontecendo, logo estaremos vivenciando de outra forma esse sentimento em nossos relacionamentos, em nossas vidas.

* Baseado nas minhas anotações feitas durante a palestra citada no início do texto.

domingo, 23 de setembro de 2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Eu não quero ser adulto, porra!

Algumas de minhas manias são de criança. Alguns de meus comportamentos são de criança. 
Minhas responsabilidades tentam me jogar para esse universo adulto, cheio de prazos para cumprir, horários para tudo, máscaras para usar, papéis para representar.
Mas, ainda assim, meu coração é de criança. Eu deito na grama só para olhar o céu, ando de pés descalços, tomo banho de chuva, ando de balanço, sento no chão, faço refeições andando pra lá e pra cá, rio de coisas sem graça, choro por motivos mínimos, faço birra, sento no colo da minha mãe, beijo meu cachorro, falo de boca cheia, faço drama, choro e dou risada ao mesmo tempo, canto gritando no banho, saio do banheiro pelado pelo corredor, deixo tudo bagunçado no meu quarto, enfim, amo as coisas simples por um único motivo: eu amo estar vivo! Isso não quer dizer que eu seja uma pessoa extremamente feliz, tampouco um pessimista ao extremo. Eu não sou bipolar; eu sou polipolar. Tenho uma capacidade imensa de passar de um bobo alegre a um ser frio e calculista. 
Eu sou mesmo uma criança. A correria do mundo dos homens não faz muito sentido para mim. Eu não vou viver mais de 100 anos mesmo, então de que me adianta insistir em ser o melhor, em ter sucesso, em ser o primeiro em tudo? Não tenho essa pretensão. O que me esforço é para dar o melhor de mim, ser o melhor que eu posso ser, deixar um pedaço meu em tudo que eu faço. O resto é consequência, uma mescla de sorte, acaso, competência, energias do universo.
Alguns, volta e meia, me dizem que tenho que crescer, que amadurecer. Sim, eu vivo em função disso. Mas eu faço isso do meu jeito. E não há um jeito certo para que as coisas aconteçam. Quando a maré está a favor eu curto a paisagem nos entornos do rio; quando a correnteza me força a remar eu faço isso com empenho. E a vida vai passando assim. E para mim isso é o máximo, porque meu coração de criança se contenta com detalhes. E para vocês, adultos, uma dica da criança aqui (vocês até reproduzem isso em palavras, mas poucos são os que vivenciam): os pequenos detalhes podem fazer grandes diferenças.

Abraço de paz!

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O dito popular está equivocado

Há um dito popular muito utilizado aqui no sul do Brasil, o qual diz que "tem que matar a cobra e mostrar o pau". Ele é mencionado quando alguém quer provar algum feito.
Frequentemente alguém remexe o baú existencial e sai contando algumas histórias e/ou estórias. Quase sempre tem alguém que não acredita no que está sendo tratado. Então o camarada trata de chamar alguém que comprove isso, que diga ter presenciado o fato ou outro indício de que seja mesmo algo real. E então "tá aí, eu mato a cobra e mostro o pau".
Em conversas nostálgicas eu costumo citar meu sonho frustrado de ser jogador de futebol profissional. Quando cito alguns episódios de minha passagem pela capital e pela dupla Gre-Nal, há aaanos atrás, eu utilizo as fotos que tenho guardadas como algo que comprove o que eu estou dizendo. Estou "matando a cobra e mostrando o pau".
Mas me veio uma coisa à cabeça. Mostrar o pau não quer dizer que tenha matado a cobra. Mostrar a cobra morta, sim. É difícil que se ache uma cobra morta para se gabar. Quando se aparece com uma cobra morta, muito provável é que a própria pessoa a tenha matado. Então vou corrigir este dito. Não basta mostrar o pau. Taura mesmo é quem mata a cobra e mostra a cobra morta. 

"Entre nós reviva Atenas,
para assombro dos tiranos.
Sejamos gregos na glória,
e na virtude, romanos"

P.S.: Parabéns gauderiada de todos os pagos e querências pela passagem do 20 de Setembro.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Concordar com tudo é escravidão

Acho que é apropriado para a época. Quem se arriscar a me acompanhar, bem vindo(a). Mas antes de me julgar, por favor, tente me compreender. 
Se acaso surgirem críticas fundamentadas, que agreguem vou considerá-las e refletir a respeito. Se vierem críticas mesquinhas, calcadas em preconceitos e dogmatismos ridículos eu só vou lê-las e nada mais.
Na minha adolescência eu vi Marcelo D2 e toda a banda Planet Hemp serem presos mediante o argumento de que eles faziam apologia às drogas. De fato, eles falavam de maconha nas letras, afinal, segundo uma das letras "uma erva natural não pode te prejudicar". Além disso, as letras eram repletas de críticas à corrupção de policiais (uma música, aliás, chama-se "Porcos Fardados") e políticos e de mais um monte de coisa podre que o sistema alimentava. São elementos que muita gente via, mas poucos eram os que tinham a coragem de apontar e se posicionar a respeito. 
Toquei em um tema delicado, mas não é sobre maconha que eu quero falar. É que na época a que me reporto eu tomei conhecimento de algumas passagens da Constituição Brasileira de 1988, que versam, entre outros fatores, sobre a liberdade de escolha e de expressão. Em caráter elucidativo, cito o Art. 5º e seus incisos IV, VIII e IX:
"Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;"
Seguindo os pressupostos da Constituição, cada pessoa tem o direito de escolha. Não só existencialmente, mas legalmente. É lícito e de direito que a pessoa possa optar em torcer para o time de futebol que preferir, em participar de atividades religiosas seja qual for a sua religião, em seguir a orientação sexual de sua escolha, em partilhar de representações de mundo vindas de suas predileções filosóficas, em militar no partido político que melhor satisfazer suas ideologias... E mais! A pessoa tem a liberdade de expressar isso da forma que quiser. Esses são os pilares da democracia. 
Uma ressalva: o regime democrático considera a vontade da maioria, mas nem sempre o que a maioria julga como melhor é, de fato, o melhor (além do fato de nem sempre a maioria ser livre para escolher, devido à coações e falcatruras - conhecidas como o velho jeitinho brasileiro). Outra ressalva: neste mesmo regime os políticos eleitos deveriam representar a vontade dos que o elegeram.
Somos livres para fazer nossas escolhas e para expressá-las. Ao menos em tese e legalmente. Porém, infelizmente, o jogo de xadrex político, calcado em interesses individuais e de determinados grupos em detrimento do coletivo, geralmente coloca em xeque o que está na Constituição.
No papel e no discurso tudo é muito bonito. Os problemas costumam acontecer com o que se faz a partir disso. Em tempos de eleições, como agora, os ânimos acabam se exaltando e o trem quase sempre acaba por descarrilar.
Uma dica: não jogue para o ar amizades e parcerias pelo simples fato de haver discordância em alguns pontos. O fato de alguém discordar de uma ideia sua não implica que ele esteja desconsiderando todo o resto. Da mesma forma, tome cuidado para não desprezar o outro por torcerem para times diferentes, por serem de religiões diferentes, por terem opções sexuais diferentes, por militaram em partidos diferentes. Talvez o que falta para que você seja respeitado é apenas um pouco de respeito para com o outro.
Monólogos são bons no teatro. Fechar-se em um único ponto de vista acaba ceifando possibilidades de crescimento. Dialogar é uma arte e um bom exercício de paciência, de escuta, de humanidade.

Que cada um tenha o discernimento para fazer suas escolhas, arcando com as consequências disso. E que o direito do outro pensar diferente e de expressar livremente suas ideias seja respeitado.

Um salve às cabeças pensantes! Porque concordar com tudo é escravidão.